Três estudos publicados em periódicos de alto impacto reforçam evidências para o tratamento de radioterapia em pacientes com câncer de próstata de alto risco: o ensaio RADICALS-RT, publicado dia 28 de setembro no Lancet, além dos estudos RAVES e GETUG-AFU 17, na edição de outubro do Lancet Oncology (vol. 21, nº 10). O radio-oncologista Daniel Przybysz (foto) analisa os resultados.
Por Daniel Przybysz
“Uma vez mais, o racional biológico permanece intacto. Apesar de a suspeita de longa data ser hipotética, três importantes estudos publicados confirmam que a radioterapia adjuvante para o adenocarcinoma de próstata de alto grau - ou com fatores de alto grau - pode ser desnecessária.
Os estudos GETG-AFU 17, RAVES e RADICALS-RT analisam pacientes com neoplasia de próstata e fatores de alto risco para doença progressiva e/ou recidivante. Os resultados dos três trabalhos demonstram que devemos esperar a falha acontecer para tratar tais pacientes. O tratamento precoce pós-cirúrgico pode apenas adicionar toxicidades. É importante ressaltar que esses pacientes já são expostos a toxicidades incômodas. A terapia anti-androgênica, bem como alguns dos efeitos pós-cirúrgicos, hoje minimizados pela tecnologia, podem oferecer efeitos colaterais impertinentes, muitas vezes permanentes, que com certeza devem ser evitados, principalmente se o tratamento não mudar o desfecho de sobrevida e/ou sobrevida livre de doença.
Apesar da falta de poder estatístico e todos os detalhes de estudos de não-inferioridade, as comparações entre pacientes que recebem a radioterapia adjuvante logo após a cirurgia e aqueles que realizam o tratamento após falha (PSA acima de 0.2 ng/mL) é clara: não estamos oferecendo ganho de controle algum.
Os resultados dos estudos nos levam ainda a concluir que devemos realizar um acompanhamento mais próximo dos pacientes após a cirurgia, com observação assídua, rotina de exames rigorosa e follow-up criterioso. É preciso selecionar bem qual paciente deve ser tratado com radioterapia, e nunca esquecer que o correto controle clínico e seguimento é a principal modalidade terapêutica no câncer de próstata”.
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Assista a vídeo em que o urologista Marcus Sadi e o radio-oncologista Rodrigo Hanriot discutem o mesmo tema: