Estudo financiado pelo National Cancer Institute mostra que também nos Estados Unidos se repete um cenário de desigualdades que impacta a assistência oncológica e aumenta o risco de mortalidade por câncer em populações economicamente vulneráveis. Para cada tipo de câncer analisado, a mortalidade foi entre 11 e 50% maior nas localidades com pobreza persistente. “São populações que enfrentam risco desproporcionalmente alto de mortalidade por câncer”, resume a primeira autora, Jennifer Moss (foto), da Penn State College of Medicine, em artigo na Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention.
Neste estudo, Moss e colegas examinaram as taxas de mortalidade por câncer em cidades com pobreza persistente. A renda média foi de $ 32.156, em comparação com $ 47.154 em outras localidades. “Pobreza persistente significa que essa localidade teve taxas de pobreza de 20% ou mais nos Censos de 1980, 1990 e 2000. Essas áreas representam cerca de 10% de todos os municípios dos EUA e estão localizadas principalmente no sul rural”, descrevem os autores.
O cenário reportado por Moss et al. compreende minorias raciais e étnicas, com perfil de menor escolaridade e maior desemprego. “Eles também são mais propensos a ter altas taxas de fatores de risco de câncer, como obesidade ou tabagismo, prossegue a autora. “São cidades marcadas por riscos sanitários que se acumulam por décadas e têm menos recursos atuais ou passados para proteger a saúde pública”, acrescenta.
Os pesquisadores calcularam as taxas de mortalidade por câncer de 2007 a 2011, ajustadas por idade. Nas localidades com pobreza persistente, a taxa de mortalidade por câncer foi de 201,3 mortes por 100.000 pessoas, em comparação com 179,3 por 100.000 nas localidades com outro perfil socioeconômico. A mortalidade por câncer de pulmão, por exemplo, foi 16,5% maior; de câncer colorretal, 17,7% maior; de câncer de estômago 43,2% superior, assim como a taxa de mortalidade por câncer de fígado e câncer do ducto biliar intra-hepático, 27,6% maior nas localidades com pobreza persistente.
"Precisamos de intervenções nessas comunidades para mudar os comportamentos causadores de câncer, tornar o rastreamento mais acessível, melhorar o tratamento e promover qualidade de vida", defende Moss. “Os esforços para reduzir o risco de câncer nessas cidades exigirão coordenação estratégica, colaboração e financiamento, com a contribuição dos membros da própria comunidade em cada etapa do processo”, argumenta.
Referência: Persistent Poverty and Cancer Mortality Rates: An Analysis of County-Level Poverty Designations - Jennifer L. Moss, Casey N. Pinto, Shobha Srinivasan, Kathleen A. Cronin and Robert T. Croyle - Cancer Epidemiol Biomarkers Prev September 30 2020 DOI: 10.1158/1055-9965.EPI-20-0007