A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) convocou 18 organizações médicas para estabelecer um panorama completo do impacto da obesidade na saúde e estabelecer estratégias para prevenção e tratamento. Publicadas na revista Obesity, as recomendações do “Summit on Addressing Obesity through Multidisciplinary Collaboration1” se concentram em quatro áreas-chave: educação e treinamento de profissionais de saúde; educação da população; pesquisa; e políticas e advocacy. Este ano, o Instituto Nacional do Câncer2 (INCA) e a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer3 (IARC) também divulgaram posicionamentos e relatórios sobre o tema.
"Muitas organizações de saúde se concentram na prevenção e gestão da obesidade, criando educação, ferramentas e recursos para suas respectivas comunidades de provedores. O objetivo da reunião foi reunir esses grupos para compartilhar pesquisas, experiências e ideias e identificar áreas de ação prioritárias para enfrentar o crescente desafio da obesidade", disse Jennifer Ligibel, presidente do ASCO Obesity and Energy Balance Subcommittee e uma das autoras do relatório. "Acreditamos que as táticas desenvolvidas nesta cúpula podem servir como um modelo para a prestação de cuidados com foco na obesidade, não só na oncologia, mas também no contexto de muitas outras doenças e condições", acrescenta.
As taxas crescentes de obesidade têm implicações importantes para pacientes, prestadores de cuidados de saúde e saúde pública. A obesidade aumenta o risco de muitas doenças não transmissíveis, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial, acidente vascular cerebral e muitos tipos de câncer. Além disso, aumenta as taxas de mortalidade para as pessoas com estas doenças.
A ASCO’s National Cancer Opinion Survey, uma grande pesquisa nacional realizada online, demonstrou que menos de um terço dos americanos (31%) percebem a obesidade com um fator de risco para o câncer. Os resultados foram anunciados em 24 de outubro.
Recomendações
Educação e treinamento: o grupo propõe uma maior coordenação de educação e treinamento de profissionais de saúde entre organizações e grupos de provedores de saúde para evitar a duplicação de esforços e aproveitar os recursos existentes e as áreas de especialização. Entre as recomendações estão estabelecer um conjunto básico de competências relacionadas à obesidade para todos os prestadores de cuidados de saúde; aumentar a educação e formação em obesidade para profissionais de saúde em treinamento; estabelecer guidelines consistentes e aplicáveis ao cuidado do paciente; e estender ofertas educacionais a toda a equipe de atendimento.
Educação da população e ativação: ampliar os esforços para educação da população e incentivar o envolvimento em mudanças no estilo de vida para prevenir e tratar a obesidade. O grupo recomenda aumentar a compreensão de mensagens direcionadas a populações específicas e desenvolver melhores métodos para conectar os pacientes aos recursos disponíveis.
Pesquisa: a comunicação entre diferentes especialidades que trabalham para prevenir e tratar a obesidade tem sido mínima, limitando o desenvolvimento de ensaios interdisciplinares e o desenvolvimento conjunto de bancos de dados para explorar diversos endpoints relacionados à obesidade. Entre as recomendações da cúpula estão avaliar os estudos existentes e os recursos de dados em todas as organizações para responder a questões de pesquisa adicionais; promover o desenvolvimento de sub-estudos auxiliares por equipes de pesquisa multidisciplinar; identificar estruturas de financiamento alternativas para auxiliar na pesquisa secundária; e incentivar os investigadores de nível júnior a trabalhar neste campo através do financiamento para estudantes de pós-graduação e pré-doutorado como parte de grandes estudos de prevenção e tratamento da obesidade.
Política e advocacy: Segundo os profissionais envolvidos no trabalho, é necessária uma coordenação para promover a mudança de políticas, continuação dos esforços existentes e parceria com agências governamentais para garantir que a prevenção da obesidade continue sendo uma prioridade nas iniciativas de saúde pública. Nesse sentido, as recomendações são apoiar o aumento do financiamento da pesquisa sobre obesidade a nível nacional; defender a cobertura adequada e reembolso de serviços de nutrição e atividades físicas e acesso a serviços de suporte a atividades físicas; considerar o estabelecimento de acreditação de "centros de excelência" para práticas que possuem as habilidades e o pessoal necessários para oferecer um ótimo atendimento à obesidade; e apoiar os esforços das coalizões de obesidade existentes.
Posicionamento do INCA
Para sensibilizar a população e incentivar a adoção de medidas efetivas para a prevenção e controle da obesidade, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) lançou o documento 'Posicionamento do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva Acerca do Sobrepeso e Obesidade'2. "O texto apoia medidas intersetoriais de regulação de alimentos que objetivam a prevenção e o controle do excesso de peso corporal, com o reconhecimento que tais medidas convergem para a prevenção do câncer", explica Maria Eduarda Melo, nutricionista da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA.
Entre as medidas sugeridas estão o aumento da tributação de bebidas açucaradas e adoçadas com adoçantes não calóricos ou de baixa caloria; restrição da publicidade e promoção de alimentos e bebidas não saudáveis dirigidas ao público infantil; restrição da oferta de bebidas e alimentos ultraprocessados nas escolas e aprimoramento das normas de rotulagem de alimentos que deixem a informação mais compreensível e acessível ao consumidor.
O documento alerta para o fato de as práticas alimentares não saudáveis e a exposição precoce ao sobrepeso e obesidade atuarem diretamente sobre o risco de câncer pelo efeito cumulativo dos fatores carcinogênicos. O Posicionamento também destaca que a obesidade infantil não apenas compromete o bem-estar físico, como também o social e psicológico das crianças.
O documento é baseado no Relatório da Comissão para o Fim da Obesidade Infantil, da Organização Mundial de Saúde (OMS), no plano de implementação do relatório discutido na Assembleia Mundial da Saúde em 2017, e no Plano de Ação para a Prevenção da Obesidade em Crianças e Adolescentes, da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS, 2014).
Relatório da Iarc alerta para a necessidade de mudar padrões de consumo
Em 2014, mais de 1,9 bilhão de adultos (cerca de 40% dos adultos do planeta) tinham sobrepeso; e destes, 600 milhões estavam obesos. Os dados constam no relatório Energy Balance and Obesity3, elaborado pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês) da Organização Mundial da Saúde.
Produzido por um grupo de trabalho composto por 17 especialistas internacionais que reuniram as últimas evidências científicas, o documento traça um panorama global das tendências em obesidade, uma análise do impacto de fatores genéticos e de estilos de vida, além de uma discussão sobre as opções disponíveis para prevenir e controlar a epidemia.
Segundo o relatório, em 2012, de todos os novos casos de câncer em adultos, 3,6% foram atribuídos ao aumento da massa corporal. O problema em crianças também é crescente: o número de crianças com sobrepeso em países com renda média mais que dobrou desde 1990 – de 7,5 milhões para 15,5 milhões.
Referências:
1 - American Society of Clinical Oncology Summit on Addressing Obesity Through Multidisciplinary Provider Collaboration: Key Findings and Recommendations for Action - First published: 31 October 2017Full publication history - DOI: 10.1002/oby.21987
3 - Energy balance and obesity - IARC Working Group Reports, Volume 10 - Edited by Isabelle Romieu, Laure Dossus, and Walter C. Willett