A redistribuição de medicamentos anticancerígenos orais não utilizados foi associada à redução do desperdício e à economia substancial de custos, melhorando a acessibilidade e a sustentabilidade do tratamento do câncer. É o que mostra estudo holandês publicado no JAMA Oncology.
Neste estudo multicêntrico (ROAD), os pesquisadores buscaram quantificar a redução de resíduos e a economia líquida de custos alcançada pela redistribuição de medicamentos de uso oral contra o câncer que permaneceram sem uso pelos pacientes, em comparação com a prática padrão de descarte no lixo dos medicamentos não utilizados.
O estudo ROAD foi uma intervenção prospectiva realizada nas farmácias ambulatoriais de 4 hospitais na Holanda, de 1º de fevereiro de 2021 a 1º de fevereiro de 2023, com acompanhamento de 12 meses de cada paciente. Foram incluídos pacientes com câncer e que tinham prescrição de medicamento de uso oral que pudesse ser armazenado em temperatura ambiente. Dos 2.426 pacientes elegíveis, 602 não consentiram e 601 não responderam.
Os participantes da intervenção receberam medicamentos anticancerígenos orais para uso domiciliar em embalagens especiais (embalagens lacradas com indicador de tempo-temperatura), para serem devolvidos à farmácia caso não fossem utilizados. A farmácia garantiu a qualidade dos medicamentos devolvidos com base na autenticidade, aparência, prazo de validade e temperatura adequada de armazenamento. Os medicamentos que atendiam aos requisitos de qualidade foram redistribuídos a outros pacientes.
A análise foi realizada de 25 de agosto de 2022 a 19 de abril de 2023 e considerou a taxa de câmbio média para 2021 (€1 = US$1,18).
Dos 1.223 pacientes com câncer que consentiram, 1.071 participaram, com mediana de 70 anos de idade [62-75], sendo 622 [58,1%] do sexo masculino). Ao todo, 171 pacientes (16,0%; IC 95%, 13,8%-18,3%) devolveram 335 embalagens de medicamentos antineoplásicos não utilizados. Dos medicamentos devolvidos, 228 embalagens foram dispensadas, o que reduziu o desperdício em 68,1% (IC 95%, 67,7%-68,5%) em comparação com a prática padrão (descarte). A redistribuição de medicamentos anticancerígenos orais não utilizados representou 2,4% (IC de 95%, 2,2%-2,5%) dos custos totais de medicamentos, proporcionando economia média anual líquida de US$ 680 (IC de 95%, US$ 524-$837) a US$ 1.591 (IC de 95%, US$ 1.226 a US$ 2.002) por participante.
Em síntese, os resultados demonstram redução do desperdício de 68% (compreendendo 2,4% dos custos totais de medicamentos dispensados no estudo) e uma economia média anual líquida de pelo menos 576 euros (2021), o equivalente a 682 dólares por participante.
As conclusões deste estudo de intervenção indicam que a redistribuição de antineoplásicos de uso oral não utilizados foi associada à redução do desperdício e à economia substancial de custos, sugerindo que essa pode ser uma estratégia promissora para melhorar a sustentabilidade financeira e ecológica de terapias de alto custo no tratamento do câncer, quando a qualidade do medicamento é garantida.
Referência: Smale EM, van den Bemt BJF, Heerdink ER, et al. Cost Savings and Waste Reduction Through Redispensing Unused Oral Anticancer Drugs: The ROAD Study. JAMA Oncol. Published online November 16, 2023. doi:10.1001/jamaoncol.2023.4865