Apesar de progressos na prevenção, detecção precoce e tratamento, a carga do câncer continua maior entre populações historicamente marginalizadas, aponta relatório realizado pela American Cancer Society (ACS). “Muitas das disparidades raciais, socioeconômicas e geográficas observadas na mortalidade por câncer estão alinhadas a disparidades na exposição a fatores de risco e no acesso à prevenção, detecção precoce e tratamento relacionadas a desigualdades fundamentais nos determinantes sociais da saúde”, observou Ahmedin Jemal, vice-presidente de vigilância e equidade em saúde da ACS e autor sênior do trabalho.
Em 2021, a American Cancer Society publicou seu primeiro relatório bienal sobre a situação das disparidades do câncer nos Estados Unidos. Publicado no periódico CA: A Cancer Journal for Clinicians, este segundo relatório traz dados atualizados sobre disparidades raciais, étnicas, socioeconômicas (tendo nível de escolaridade como marcador) e geográficas (status metropolitano) na ocorrência e resultados de câncer, assim como fatores que contribuem para estas disparidades.
“Nossa investigação sugere um papel importante das disparidades socioeconômicas na mortalidade por câncer”, disse Farhad Islami, diretor científico sênior de investigação sobre disparidades no câncer da American Cancer Society e principal autor do relatório. “Também mostra disparidades substanciais na ocorrência e nos resultados da doença por localização geográfica, especialmente em idades mais jovens”, afirmou.
Os resultados mostraram que, durante 2016 a 2020, a mortalidade por todos os tipos de câncer e pelos tumores que constituem as principais causas de morte por câncer foram substancialmente mais elevadas em áreas não metropolitanas do que nas grandes áreas metropolitanas. Para o câncer colorretal, por exemplo, as taxas de mortalidade em áreas não metropolitanas versus grandes áreas metropolitanas foram 23% mais elevadas entre os homens e 21% mais elevadas entre as mulheres.
Por raça, as taxas globais de mortalidade por câncer foram 18%-19% mais elevadas entre os homens negros e ameríndios do que entre os homens brancos. As mulheres ameríndias e negras tiveram taxas de mortalidade por câncer 16% e 12% mais altas do que as mulheres brancas, apesar de terem taxas de incidência 7% e 9% mais baixas, respectivamente.
Por nível de escolaridade, para indivíduos com 12 anos ou menos de escolaridade versus aqueles com 16 ou mais anos de escolaridade, as taxas de mortalidade por câncer foram 60% a 180% mais elevadas entre homens e mulheres negros e brancos. Em contraste, as disparidades entre negros e brancos na mortalidade global por câncer dentro de cada nível de escolaridade variaram entre taxas 3% e 50% maiores entre os negros, com as maiores disparidades encontradas naqueles com 16 ou mais anos de escolaridade. Por faixa etária, as disparidades raciais e geográficas na mortalidade por câncer foram maiores em indivíduos com 65 anos ou menos em comparação com aqueles maiores de 65 anos.
“A superação destas disparidades exige políticas equitativas em todos os níveis de governo e um amplo envolvimento interdisciplinar para abordar as desigualdades fundamentais nos determinantes sociais da saúde. Entretanto, a implementação ampla e equitativa de intervenções baseadas em evidências, como um programa abrangente de controle do tabaco em cada estado, pode diminuir ainda mais essas disparidades”, afirmou Jemal.
“São necessárias políticas equitativas em todos os níveis de governo e um amplo envolvimento interdisciplinar para abordar estas desigualdades fundamentais nos determinantes sociais da saúde. Além disso, a implementação ampla e equitativa de intervenções baseadas em evidências, como o aumento da cobertura do seguro de saúde, pode reduzir as disparidades relacionadas ao câncer”, concluíram os autores.
Referência: Islami, F, Baeker Bispo, J, Lee, H, et al. American Cancer Society’s report on the status of cancer disparities in the United States, 2023. CA Cancer J Clin. 2023; 1-31. doi:10.3322/caac.21812