Onconews - Relatório da AACR destaca fatores de risco modificáveis e toxicidade financeira do câncer

A Associação Americana para Pesquisa do Câncer (AACR) publicou a 14ª edição do seu Relatório Anual de Progresso do Câncer, fornecendo as estatísticas mais recentes sobre incidência, mortalidade e sobrevida do câncer. O documento reforça a importância da pesquisa básica, translacional e clínica do câncer para a continuidade dos avanços na área, e destaca a importância de trabalhar a conscientização sobre fatores de risco modificáveis, como o consumo de álcool e a infecção pelo HPV.

"Como mostra o Relatório de Progresso do Câncer da AACR deste ano, o futuro da ciência e da medicina do câncer é muito promissor", disse a presidente da AACR, Patricia M. LoRusso. "O diagnóstico da doença está se tornando mais sofisticado. Novas tecnologias, como a transcriptômica espacial, estão nos ajudando a estudar tumores em nível celular. As abordagens baseadas em inteligência artificial (IA) estão começando a transformar a detecção, o diagnóstico, a tomada de decisões clínicas e o monitoramento da resposta ao tratamento do câncer. Esses avanços resultarão em melhor atendimento ao paciente", afirma. 

O documento relata que 15 novos tratamentos anticâncer foram aprovados pela U.S.Food Drug Administration no último ano, entre eles o primeiro imunoterápico baseado em linfócitos infiltrantes de tumor, que beneficiará pacientes com melanoma; um novo anticorpo biespecífico contra um novo alvo para pacientes com câncer de pulmão de células pequenas;  e vários novos tratamentos e imunoterapias molecularmente dirigidas para o tratamento de pacientes com diferentes tipos de câncer hematológico.

Durante esse mesmo período, a FDA também aprovou 15 tratamentos anticâncer aprovados anteriormente para tratar tipos adicionais de câncer; um novo agente de imagem; várias ferramentas baseadas em inteligência artificial para melhorar a detecção precoce e o diagnóstico de tumores; e dois testes minimamente invasivos para avaliar o risco de câncer hereditário ou para detecção precoce de câncer.

“Devido, em grande parte, aos avanços na prevenção, detecção precoce e tratamento, a taxa geral de mortalidade por câncer ajustada por idade nos EUA caiu 33% entre 1991 e 2021 — estima-se que 4,1 milhões de mortes por câncer foram evitadas”, destaca o relatório.

Uso de álcool e risco de câncer

Um crescente corpo de pesquisas resumido no Relatório de Progresso do Câncer da AACR 2024 esclarece o impacto do uso de álcool na incidência e nos resultados do câncer. “Nos EUA, 5,4% dos cânceres foram atribuídos ao consumo de álcool em 2019, ano mais recente para o qual há dados disponíveis”, destaca a publicação.

Entre as descobertas, os estudos mostram que níveis excessivos de consumo de álcool aumentam o risco de seis tipos diferentes de câncer: certos tipos de câncer de cabeça e pescoço, carcinoma espinocelular de esôfago e câncer de mama, colorretal, fígado e estômago. A pesquisa mostrou uma associação entre o grau de álcool consumido durante a gravidez e a probabilidade de a criança desenvolver leucemia após o nascimento, com níveis moderados e altos de consumo de álcool durante a gravidez aumentando o risco. Além disso, os dados mostram que a ingestão de álcool em idade precoce pode aumentar o risco de câncer mais tarde na vida.

“Infelizmente, a conscientização sobre a ligação entre álcool e câncer ainda é baixa, destacando a necessidade de campanhas de mensagens públicas, como rótulos de advertência específicos para câncer exibidos em bebidas alcoólicas, juntamente com estratégias clínicas eficazes para reduzir a carga de cânceres relacionados ao álcool”, destaca o relatório.

Os organizadores observam ainda que as taxas de incidência de alguns tipos de câncer estão aumentando nos EUA, incluindo cânceres preveníveis por vacina, como cânceres orais associados ao HPV e, em adultos jovens, cânceres cervicais. Uma análise recente revelou que a incidência geral de câncer cervical entre mulheres de 30 a 34 anos aumentou 2,5% ao ano entre 2012 e 2019.

“Apesar das evidências claras demonstrando que a vacina contra o HPV reduz a incidência de câncer cervical, a aceitação da vacina nos EUA tem sido baixa. Em 2022, apenas 38,6% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos receberam pelo menos uma dose da vacina contra o HPV”, destaca a publicação, observando que cânceres de início precoce também estão aumentando, com taxas de câncer de mama, colorretal e outros aumentando em adultos com menos de 50 anos.

Toxicidade financeira

A toxicidade financeira do câncer também está em foco no relatório da AACR. “As dificuldades financeiras após um diagnóstico de câncer são generalizadas, e os efeitos podem durar anos. Mais de 40% dos pacientes com câncer podem gastar todas as suas economias de uma vida inteira nos primeiros dois anos de tratamento do câncer”, afirmam os autores.

Entre os sobreviventes adultos de câncer infantil, 20,7% tiveram problemas para pagar suas contas médicas, 29,9% relataram ter sido enviados para cobrança de dívidas por contas não pagas, 14,1% deixaram de receber cuidados médicos e 26,8% não tinham dinheiro suficiente para comprar refeições nutritivas. A toxicidade financeira entre os sobreviventes de câncer adolescentes e jovens adultos também é uma preocupação. Os custos ao longo da vida associados a um diagnóstico de câncer são substanciais, atingindo uma média de 260 mil dólares por pessoa. “Em nível global, estima-se que, de 2020 a 2050, o ônus econômico acumulado do câncer será de US$ 25,2 trilhões”, concluem os autores.