A taxa global de mortalidade por câncer nos Estados Unidos diminuiu 33% entre 1991 e 2020, em grande parte devido aos avanços na prevenção, detecção precoce e tratamento. Estes avanços, no entanto, não beneficiaram a todos igualmente. “Uma longa história de racismo, segregação e discriminação contra grupos populacionais marginalizados conduziu a desigualdades estruturais e injustiças sistêmicas que têm um impacto negativo na assistência contra o câncer”, destaca o Relatório de Progresso das Disparidades do Câncer 2024, produzido pela Associação Americana para Pesquisa do Câncer (AACR).
Publicado bienalmente, o documento busca conscientizar sobre a carga desproporcional do câncer em sobre grupos raciais minoritários e étnicos e outras populações marginalizadas; destacar as causas subjacentes às disparidades no domínio do câncer, bem como tendências promissoras na redução destas desigualdades; e ressaltar a necessidade de investigação e colaboração contínuas para garantir que os avanços contra o câncer beneficiem todos os pacientes, independentemente da sua raça, etnia, idade, orientação sexual, identidade de gênero, status socioeconômico ou localização geográfica.
O relatório observa que a falta de diversidade na força de trabalho da pesquisa e cuidados do câncer, fruto das mesmas injustiças institucionais e sociais que limitam as oportunidades de ensino superior entre comunidades minoritárias, também contribui para estas desigualdades na saúde. “Muitos segmentos da população dos EUA suportam, portanto, uma carga desproporcional do câncer. Embora as taxas globais de incidência de câncer entre as populações negras e indígenas sejam mais baixas em comparação com a população branca, os indivíduos negros e indígenas têm as taxas globais de mortalidade pela doença mais elevadas de todos os grupos raciais ou étnicos norte-americanos”, destaca a publicação.
Esta disparidade é particularmente marcante no que diz respeito à comunidade negra. Os homens negros têm o dobro de probabilidade de morrer de câncer de próstata em comparação com os homens brancos, e embora a incidência de câncer de mama seja semelhante em mulheres negras e brancas, as mulheres negras têm uma probabilidade 40% maior de morrer da doença. O relatório destaca ainda diferenças conforme a região de residência e minorias sexuais e de gênero.
Os impulsionadores sociais da saúde (do inglês, SDOH - social drivers of health) são fundamentais para a compreensão das disparidades do câncer. Os SDOH incluem fatores como o nível de educação, renda, emprego, habitação, transporte e acesso a alimentos saudáveis, ar puro, água e serviços de saúde, e são os principais contribuintes para as disparidades do câncer entre grupos minoritários raciais e étnicos e populações clinicamente desfavorecidas.
Além disso, fatores biológicos relacionados à ancestralidade – como diferenças em variantes genéticas, alterações epigenéticas, perfis imunológicos e microbiomas – podem levar a disparidades entre diferentes populações. Por esta razão, o relatório sublinha que uma abordagem abrangente e integrada que leve em conta a interação das exposições ambientais, das experiências de vida e da biologia na avaliação dos riscos de câncer é fundamental para a investigação das disparidades da doença.
Outros fatores importantes que contribuem para as disparidades do câncer discutidas no relatório são a falta de diversidade existente nos conjuntos de dados genômicos do câncer; a sub-representação de grupos minoritários em ensaios clínicos; e a falta de diversidade nos percursos educativos e de carreira em Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática e Medicina (STEMM), especificamente na força de trabalho da investigação e cuidados do câncer.
O Relatório também reúne esforços que estão sendo realizados para diminuir a disparidade, e relaciona inciativas que podem contribuir para promover a equidade em saúde. Entre as ações destacadas estão a necessidade de financiamento robustos, sustentados e previsíveis para agências e programas federais encarregados de reduzir as disparidades em câncer; apoio a iniciativas de coleta de dados; aumento do acesso e participação em ensaios clínicos; e crescimento de ações de rastreio para detecção precoce e prevenção.
"Neste momento de extraordinário progresso científico contra o câncer, é crucial garantirmos que nenhuma população ou comunidade seja deixada para trás. A equidade em saúde é um direito humano fundamental e deve ser prioridade. Esperamos que as informações e recomendações contidas neste relatório inspirem os diversos stakeholders para enfrentar estas questões complexas e eliminar as disparidades do câncer”, conclui Margaret Foti, PhD, MD (hc), diretora executiva da AACR.
Para acessar a íntegra do relatório, clique aqui.