Pacientes com câncer colorretal metastático sem mutações V600 no gene BRAF, conhecidas como mutações BRAF classe 3, são mais propensos a responder ao tratamento anti-EGFR, de acordo com resultados publicados na Clinical Cancer Research. "Os resultados do nosso estudo indicam que pacientes com câncer colorretal metastático com certas mutações BRAF devem ser considerados para o tratamento anti-EGFR”, disse o autor sênior, Hiromichi Ebi, do Instituto de Pesquisa do Centro de Câncer Aichi, em Nagoya, Japão. A oncologista Renata D'Alpino (foto), coordenadora de Tumores Gastrointestinais e Neuroendócrinos do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e membro do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG), analisa os resultados.
Alterações na via de sinalização do RAS, que controla funções-chave como proliferação e sobrevivência celular, são um fator conhecido na oncogênese. Mutações no BRAF, uma quinase que interage com o RAS, podem resultar na ativação ou amplificação da via de sinalização do RAS. “Aproximadamente 10% dos tumores metastáticos do câncer colorretal abrigam mutações no gene BRAF, observou Ebi. As mutações BRAF pertencem a uma das três classes funcionais. A classe 1 compreende mutações BRAF V600. As mutações BRAF não-V600 são divididas em duas classes: as mutações classe 2 são independentes de RAS e as mutações classe 3 aumentam a ligação ao RAS.
Para determinar se diferentes classes de mutações BRAF não-V600 afetam a resposta à terapia anti-EGFR, Ebi e colegas analisaram retrospectivamente dados de 40 pacientes com câncer colorretal metastático, cujo tratamento incluiu uma terapia anti-EGFR. Os pesquisadores classificaram os tumores de acordo com o perfil de mutações BRAF não-V600: 12 pacientes tinham mutações BRAF classe 2 e 28 pacientes tinham mutações BRAF classe 3.
Os resultados mostram que apenas 8% por cento dos pacientes com tumores com mutações BRAF classe 2 responderam aos esquemas de tratamento anti-EGFR, em comparação com 50% daqueles com mutações BRAF classe 3 (P = 0,02).
Os pesquisadores também analisaram respostas a regimes anti-EGFR com base na linha de tratamento. No cenário de primeira ou segunda linha, 17% dos pacientes com tumores com mutações BRAF classe 2 responderam ao tratamento, em comparação com 78% daqueles com mutações BRAF classe 3 (P = 0,04). No cenário de terceira linha ou posterior, nenhum paciente com mutação BRAF classe 2 respondeu ao tratamento versus 37% de respondentes entre aqueles com mutação BRAF classe 3 (P = 0,14).
“Já sabíamos que nem toda mutação de BRAF em câncer colorretal metastático é igual. Até pouco tempo atrás, se questionava o benefício da terapia anti-EGFR para pacientes BRAF mutados, afinal testávamos apenas o V600E. Apesar de ainda incipientes, os dados corroboram o fato de que nem toda mutação de BRAF se comporta de maneira igual e mostram que a terapia anti-EGFR pode ser eficaz no cenário de mutações de BRAF de classe 3”, observa Renata.
Referência: Clin Cancer Res September 12 2019 DOI: 10.1158/1078-0432.CCR-19-2004