O oncologista brasileiro Fernando Santini (foto) é o primeiro autor de estudo publicado na Cancer Immunology Research, que discute a possibilidade de retratamento com inibidores de checkpoint imune em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células, após a ocorrência de eventos adversos imunomediados. Os resultados ajudam a caracterizar a segurança e o benefício do retratamento com anti PD-1/ PD-L1 nesse cenário, em monoterapia e esquemas de combinação.
O retratamento após a recuperação de um evento adverso imuno-relacionado (irAE) é um cenário clínico comum, mas a segurança e o benefício do retratamento ainda são pouco conhecidos.
Neste estudo, pacientes com CPNPC tratados com anti-PD-1/PD-L1 que apresentaram irAEs foram divididos em dois grupos: aqueles designados para retratamento com anti-PD-1/PD-L1 (coorte de retratamento) e aqueles que tiveram tratamento interrompido (coorte de interrupção).
Resultados
Foram identificados 482 pacientes que receberam imunoterapia com anti-PD-1 / PD-L1 em monoterapia (n = 432, 90%) ou em combinação com anti-CTLA-4 (n = 50, 10%). Os pacientes foram tratados no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, de abril de 2011 a maio de 2016. Um total de 68 pacientes (14%) experimentaram um irAE que levou à interrupção do tratamento. Desse total, 38 (56%) foram retratados e 30 (44%) tiveram seu tratamento interrompido.
Os pacientes da coorte de retratamento foram mais propensos a receber tratamento de primeira linha (66% vs. 30%, p = 0,007).
Na coorte de retratamento, 18 pacientes (48%) não tiveram irAE subsequentes, 10 (26%) apresentaram recorrência do irAE inicial e 10 (26%) apresentaram um novo irAE diferente do inicial.
O artigo de Santini, F. et al registra que a maioria dos irAEs recorrentes/novos foram leves (58% grau 1-2) e gerenciáveis, com 84% deles resolvidos ou melhorados para grau 1). No entanto, duas mortes relacionadas ao tratamento foram reportadas. Novos irAEs ocorreram em taxas semelhantes em pacientes com toxicidade grau 3 - 4 e naqueles com irAEs grau 1 - 2 como evento inicial (61% vs 48%). Os eventos adversos imunomediados ocorreram em 52% dos pacientes, incluindo toxicidades grau 3-4 e a já mencionada ocorrência de óbitos.
A necessidade de internação hospitalar no primeiro irAE foi associada a um risco 87% maior de apresentar irAE recorrente / novo.
Os autores observam que entre pacientes que alcançaram respostas parciais ou completas antes do início dos eventos adversos imunomediados, a sobrevida foi semelhante, independentemente do retratamento ou descontinuação. Em pacientes sem resposta antes dos irAEs, respostas objetivas foram alcançadas com o retratamento. “A análise de segurança do nosso trabalho favorece a conclusão de que o retratamento pode ser cuidadosamente considerado em alguns pacientes com irAEs”, dizem os autores.
Entre 3% e 12% dos pacientes vão interromper o tratamento com anti PD-1/ anti-PD-L1 devido a eventos adversos relacionados, 16% vão interromper a terapia anti-CTLA-4 e as taxas podem ser ainda maiores quando se consideram os esquemas de combinação. A expansão dos tratamentos imuno-oncológicos faz crescer a preocupação com eventos imuno-relacionados. “O reconhecimento precoce e as estratégias de gestão dos irAEs são importantes para otimizar a segurança dos pacientes. Após o desenvolvimento de um evento adverso imuno-relacionados, o retratamento pode ser cuidadosamente considerado em alguns pacientes com câncer de pulmão, especialmente em pacientes que ainda não obtiveram resposta com o tratamento”, conclui o estudo.
Os dados foram apresentados originalmente no encontro anual da ASCO, em 2017.
Referência: Santini, F. C., Rizvi, H., Plodkowski, A. J., Ni, A., Lacouture, M. E., Gambarin-Gelwan, M., … Hellmann, M. D. (2018). Safety and Efficacy of Re-treating with Immunotherapy after Immune-Related Adverse Events in Patients with NSCLC. Cancer Immunology Research. doi:10.1158/2326-6066.cir-17-0755