A cannabis nos EUA está em transição de um status ilegal nacional para a liberalização para uso medicinal ou recreativo. Revisão publicada no Lancet Regional Health reúne as mais abrangentes evidências até o momento sobre o uso de cannabis e risco de câncer, com o objetivo de informar recomendações de organizações de saúde pública, formuladores de políticas e profissionais clínicos.
Em agosto de 2024, as leis sobre a cannabis medicinal estavam em vigor em 39 estados, três territórios e no Distrito de Columbia, enquanto as leis sobre a cannabis recreativa vigoravam em 24 estados e no Distrito de Columbia. Nigar et al. descrevem que, em 2021, 35,4% dos americanos com idades entre 18 e 25 anos e 17,2% daqueles com 26 anos ou mais relataram ter usado cannabis no ano anterior, consumo que em 2022 alcançou prevalência de 30,7% entre alunos do 12º ano com idades 17 e 18 anos.
Nesta revisão, os autores analisam que as ligações entre a exposição à cannabis e o risco de câncer são mais sugestivas do que conclusivas. O tipo de câncer mais intimamente ligado ao uso de cannabis é o câncer testicular não seminoma. No entanto, novas evidências têm surgido e apontam para um risco aumentado de outros tipos de câncer (por exemplo, carcinoma de células escamosas de pulmão, carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço e câncer oral, de mama, de fígado, câncer cervical, de laringe, pancreático, de tireoide e infantil), ressaltando a importância potencial de incorporar a prevenção e a cessação do uso de cannabis nos esforços de prevenção do câncer.
Diante da ausência de estudos rigorosos e livres de vieses, a revisão de Nigar e colegas conclui que não apenas faltam estudos epidemiológicos robustos, mas também pesquisas sobre as consequências econômicas a longo prazo de todos os produtos de cannabis (médicos e recreativos). “Até então, as evidências insuficientes sobre os riscos à saúde de todo o uso de cannabis, tanto recreativo quanto medicinal, reduzem a capacidade dos formuladores de políticas, profissionais de saúde e indivíduos de tomar decisões informadas sobre o uso de cannabis e expõem o público a um risco de saúde potencialmente sério”, destaca a publicação. “Entender esses aspectos pode fornecer uma visão abrangente das implicações da legalização da cannabis no contexto mais amplo da saúde pública”, analisam os autores.
Referência:
Cancer risk and legalisation of access to cannabis in the USA: overview of the evidence
Nargis, Nigar et al. The Lancet Public Health, Volume 0, Issue 0