Onconews - Pesquisa compara desfechos de longo prazo com terapia focal no câncer de próstata

A terapia focal ganhou aceitação ao longo do tempo, com uma proporção maior de pacientes com câncer de próstata clinicamente significativo em tratamento com crioterapia,  ultrassom focalizado de alta intensidade (HIFU) e eletroporação irreversível (IRE). Revisão sistemática e meta-análise que avaliou desfechos de longo prazo  entre homens tratados com terapia focal de 2008 a 2024 mostra que a sobrevida global agrupada foi de 98,0%, a sobrevida câncer específica de 99,3% e a sobrevida livre de metástases alcançou 98,5%, enquanto a taxa de progressão bioquímica  anual foi de 9,4%.

A terapia focal (TF) é uma opção de tratamento para o câncer de próstata clinicamente significativo (csPCa) de volume limitado, que vem sendo associada a bons resultados oncológicos e funcionais de curto e médio prazo.  Neste estudo, o objetivo foi revisar sistematicamente os resultados das modalidades de TF estabelecidas, para avaliar as evidências disponíveis e identificar lacunas que ajudarão no desenho de novos estudos.

Foram considerados nesta revisão sistemática e meta-análise todos os estudos primários relatando resultados de TF usando crioterapia, ultrassom focalizado de alta intensidade (HIFU) e eletroporação irreversível (IRE). Os pesquisadores descrem os critérios de inclusão de pacientes, ferramentas de seleção, parâmetros de tratamento e protocolos de vigilância, assim como os desfechos de sobrevida global (SG), sobrevida câncer específica (SCS), sobrevida livre de metástases (SLM), progressão bioquímica (PB), biópsia, tratamento secundário, resultados de função sexual e urinária.

A base de análise considerou 49 coortes de homens submetidos a TF entre 2008 e 2024 (21 crioterapia, 20 HIFU e 8 IRE). O acompanhamento mediano variou de 6 a 63 meses. Os autores descrevem que a SG agrupada foi de 98,0%, SCS de 99,3% e SLM de 98,5%. A PB agrupada foi de 9,4%/ano. A biópsia foi obrigatória após TF dentro de 24 meses em 36/49 (73,5%) das coortes, com taxas de csPCa (GG ≥ 2) agrupadas de 22,2% no geral, 8,9% no campo interno e 12,3% no campo externo. A taxa agrupada de TF secundária foi de 5,0%, tratamento radical de 10,5% e falha composta de 14,1%.

Dos 35 estudos que relataram a função sexual, 45,7% relataram um impacto baixo, 48,6% moderado e 5,7% grave. Para 34 coortes que relataram a função urinária, 97,1% relataram um impacto baixo. Nenhuma diferença foi observada entre crioterapia, HIFU ou IRE em nenhum dos resultados.

Apesar desses achados, a revisão mostra que faltam evidências randomizadas para amparar os resultados de eficácia oncológica da Terapia Focal em comparação com tratamentos radicais padrão. “Um dos motivos é que a experiência no recrutamento para ensaios clínicos randomizados não tem sido encorajadora: enquanto o estudo Partial ablation versus prostatectomy (PART) mostrou viabilidade inicial em um relatório de 2018, o recrutamento atual mostra apenas 42 dos 800 pacientes alvo recrutados. Da mesma forma, o IP4-Chronos concluiu que não é viável fazer um estudo randomizado em TF diante das fortes preferências dos pacientes quando se trata do tratamento do câncer de próstata”, analisam os autores.

Em síntese, a análise mostra que os padrões de ablação mudaram ao longo do tempo, com mais ablações focais/direcionadas sendo feitas em comparação com hemi-ablações, e revela que os resultados da TF são altamente dependentes da seleção do paciente. Não foram observadas diferenças significativas entre as três modalidades de TF no resultado oncológico ou funcional.

A íntegra do estudo de revisão está disponível na Prostate Cancer and Prostatic Dissease, em acesso aberto.

Referência:

Tay, K.J., Fong, K.Y., Stabile, A. et al. Established focal therapy—HIFU, IRE, or cryotherapy—where are we now?—a systematic review and meta-analysis. Prostate Cancer Prostatic Dis (2024). https://doi.org/10.1038/s41391-024-00911-2