O brasileiro Daniel Przybysz (foto) é coautor de artigo publicado no Journal of Thoracic Oncology, em revisão que discute as evidências da radioterapia hipofracionada no câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) localmente avançado. Os resultados mostram que apesar do uso crescente do hipofracionamento acelerado nesse cenário de tratamento, apenas um estudo clínico randomizado foi realizado comparando 60 Gy em 15 frações com 60 Gy em 30 frações sem quimioterapia concomitante, com achados que não demonstraram a superioridade do hipofracionamento para esses pacientes.
A radioterapia hipofracionada acelerada tem ganhado interesse crescente para o câncer de pulmão de células não pequenas localmente avançado, diante do potencial de aumentar a dose radiobiologicamente eficaz (RBE) e reduzir a utilização de recursos de saúde. No entanto, há poucas evidências prospectivas apoiando o uso rotineiro de hipofracionamento acelerado com ou sem quimioterapia concomitante. Por esse motivo, o Subcomitê de Tecnologia Avançada de Radiação (ART) da Associação Internacional para o Estudo do Câncer de Pulmão (IASLC) conduziu uma revisão sistemática de estudos prospectivos de hipofracionamento acelerado no CPCNP localmente avançado.
A revisão envolveu uma busca sistemática nas principais bases de dados (Ovid MEDLINE, Ovid Embase, Wiley Cochrane Library e ClinicalTrials.gov) para publicações em inglês de ensaios clínicos prospectivos publicados de 2010 a 2024 sobre radioterapia hipofracionada acelerada, definida como >2 Gy administrada em 10-25 frações para CPCNP localmente avançado não metastático (Estágio III).
Os resultados revelam que 33 estudos prospectivos atenderam aos critérios de inclusão. De 14 estudos prospectivos avaliando hipofracionamento acelerado definitivo (sem quimioterapia concomitante), houve 6 registros prospectivos, 7 ensaios de Fase 1-2 e 1 ensaio clínico randomizado de Fase 3, com uma dose mediana de 60 Gy administrada em uma mediana de 16 frações, com sobrevida livre de progressão mediana de 6,4-25 meses, sobrevida mediana de 6-34 meses e 0-8% de esofagite grave de grau ≥ 3. Houve 19 estudos avaliando radioterapia hipofracionada acelerada com quimioterapia baseada em doublet de platina como o regime concomitante mais comum. Destes estudos, 18 foram ensaios de Fase 1-2 e um registro prospectivo com uma dose de radiação mediana de 61,6 Gy administrada em uma mediana de 23 frações, com SLP mediana de 10-25 meses, sobrevida mediana de 13-38 meses, esofagite grau ≥ 3 de 0-23,5% e pneumonite grau ≥ de 0-11,8%.
“Apesar do uso crescente de hipofracionamento acelerado para CPCNP localmente avançado, as evidências randomizadas de apoio permanecem escassas. Apenas um ensaio clínico randomizado comparando 60 Gy em 15 frações com 60 Gy em 30 frações sem quimioterapia concomitante não demonstrou a superioridade do hipofracionamento acelerado”, concluem os autores. Assim, o uso de radioterapia hipofracionada acelerada deve ser cuidadosamente considerado juntamente com outras opções multidisciplinares e ser mais investigado por meio de ensaios clínicos prospectivos.
Referência:
Accelerated hypofractionated radiotherapy for locally-advanced non-small cell lung cancer: A systematic review from the International Association for the Study of Lung Cancer (IASLC) Advanced Radiation Technology (ART) Subcommittee - Said, Badr Id et al. DOI: 10.1016/j.jtho.2024.09.1437