Revisão de Wellington Andraus (à esquerda na foto) e colegas, publicada na Frontiers in Oncology, apresenta resultados da experiência global de transplante de fígado a partir de doador vivo (TFDV) no tratamento do colangiocarcinoma intra-hepático (iCC), incluindo o primeiro relato de TFDV para tratar iCC na América Latina, realizado pelo Departamento de Gastroenterologia da Universidade de São Paulo. O trabalho tem como autor sênior o médico Luiz Augusto Carneiro D'Albuquerque (à direita), titular da disciplina de Transplantes de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo da Faculdade de Medicina da USP.
O colangiocarcinoma intra-hepático é a segunda neoplasia mais comum do fígado e apenas 35% dos casos são considerados ressecáveis ao diagnóstico, com sobrevida de cerca de 30% pós-ressecção. Neste artigo, Andraus et al. ressaltam a extensão das fronteiras atuais para o transplante de fígado (TF) no colangiocarcinoma intra-hepático (iCC). “Há evidências crescentes de que certos casos de iCC podem se beneficiar do transplante de fígado. A chave para o sucesso dessa abordagem é um processo de seleção meticuloso que identifica pacientes com potencial para tratamento curativo. O transplante de fígado de doador vivo surge como uma alternativa contemporânea para ampliar a aplicação do TF, particularmente em regiões que enfrentam escassez de órgãos”, destacam.
Descrito como malignidade de células epiteliais altamente letal ao longo da árvore biliar e dentro do parênquima hepático, o colangiocarcinoma (CC) constitui um desafio global à saúde. O subgrupo iCC representa 10–20% de todos os CC. Para os estágios avançados, Andraus e colegas lembram que o tratamento recomendado é a quimioterapia combinada com imunoterapia, embora a sobrevida global mediana seja de menos de um ano. “O transplante de fígado oferece uma vantagem teórica para permitir a radicalidade cirúrgica”, explica a revisão, que mostra mudanças importantes desde as primeiras experiências internacionais na década de 90. “Atualmente, a ênfase mudou para a seleção meticulosa de candidatos, considerando fatores como tamanho do tumor e comportamento biológico para identificar indivíduos com maior probabilidade de se beneficiar do TF”.
A publicação também descreve que, diante da escassez de órgãos, o transplante de fígado com doador vivo (TFDV) representa uma boa solução para indicações oncológicas, embora a experiência global seja restrita. “Nossa revisão identificou apenas oito autores com uma série curta”, apontam os autores, que somam contribuição importante ao apresentar o primeiro relato de TFDV para tratar iCC na América Latina. “Neste caso, tratamos com sucesso um paciente com tumor avançado irressecável comprometendo a veia cava, mas com uma excelente resposta ao tratamento neoadjuvante. Em um estágio da doença em que as opções para cura potencial eram limitadas, o TFDV com ressecção da cava surgiu como a única opção viável, e o procedimento foi altamente bem-sucedido, sem sinais de recorrência observados após 24 meses de acompanhamento. Este caso destaca a eficácia da seleção de candidatos com base no comportamento biológico, independentemente do tamanho e número de tumores”, descrevem.
Ao lado de Wellington Andraus, a revisão tem como coautores Gabriela Ochoa, Rodrigo Bronze de Martino, Rafael Soares Nunes Pinheiro, Vinicius Rocha Santos, Liliana Ducatti Lopes, Rubens Macedo Arantes Júnior, Daniel Reis Waisberg, Alexandre Chagas Santana, Francisco Tustumi e Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, pesquisadores do Departamento de Gastroenterologia, Unidade de Transplantes, da Universidade de São Paulo.
Referência:
Front. Oncol., 20 May 2024
Sec. Gastrointestinal Cancers: Hepato Pancreatic Biliary Cancers
Volume 14 - 2024 | https://doi.org/10.3389/fonc.2024.1404683