Pesquisa publicada na Cancers identificou uma assinatura molecular comum entre pacientes que apresentam baixa expressão de RKIP e alta expressão de EGFR em diferentes tumores sólidos, demonstrando o valor prognóstico dessa correlação inversa em pacientes com câncer cervical. O trabalho tem participação brasileira, dos pesquisadores Adhemar Longatto-Filho (foto), Fábio Marques, Marise A. R. Moreira, Rui M. Reis e Olga Marinho, e lança nova luz sobre os mecanismos moleculares que contribuem para o fenótipo agressivo associado a RKIP e EGFR no câncer cervical.

A proteína inibidora de quinase Raf (RKIP) é reconhecida como um gene supressor de tumor e sua expressão diminuída ou perda está associada à progressão e ao mau prognóstico de vários tumores sólidos. “Dada a importância da superexpressão do receptor HER em vários tipos de tumores, investigamos a potencial relação oncogênica entre os receptores RKIP e HER em tumores sólidos”, descrevem os autores.

A pesquisa envolveu uma análise in silico de 30 estudos do TCGA PanCancer Atlas, abrangendo tumores sólidos (10.719 amostras). A análise revelou evidências convincentes de uma correlação inversa entre a expressão de RKIP e EGFR em tumores sólidos observados em 25 de 30 estudos, em particular no câncer cervical (CC). Para validar esse achado, os pesquisadores utilizaram 202 amostras de CC de pacientes brasileiros, obtidas dos arquivos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás.

“Em nossa série de 202 amostras de adenocarcinoma, descobriu-se que RKIP era expresso não apenas no núcleo e citoplasma das células tumorais, mas também no estroma. No geral, RKIP foi superexpresso em 53,9% (113/202) dos tumores, moderadamente expresso em 32,7% (66/202) e em 11,4% (23/202) dos tumores foi encontrado negativo. Cruzando os dados para expressão imuno-histoquímica de RKIP e HER, corroboramos a descoberta de uma associação negativa significativa entre RKIP e superexpressão de EGFR (p = 0,029)”, prossegue a análise.

Em relação às associações com dados clinicopatológicos, o estudo mostrou que a baixa expressão de RKIP foi significativamente associada à presença de metástases e mau prognóstico (p = 0,026) em adenocarcinomas cervicais.

“Em conclusão, nossas descobertas revelam uma associação inversa entre a expressão de RKIP e EGFR em vários tumores sólidos, lançando nova luz sobre os mecanismos moleculares que contribuem para o fenótipo agressivo associado a RKIP e EGFR no câncer cervical”, destacam os autores.

A descoberta deste novo loop putativo RKIP/EGFR abre a porta para vários estudos futuros em outros tipos de tumores, principalmente aqueles nos quais o EGFR tem papel oncogênico crucial.

O trabalho tem participação do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, do Centro de Pesquisa em Oncologia Molecular do Hospital do Câncer de Barretos e do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás.

Referência:

Cardoso-Carneiro, D.; Pinheiro, J.; Fontão, P.; Nogueira, R.; Gabriela-Freitas, M.; Raquel-Cunha, A.; Mendes, A.; Longatto-Filho, A.; Marques, F.; Moreira, M.A.R.; et al. Unveiling the RKIP and EGFR Inverse Relationship in Solid Tumors: A Case Study in Cervical Cancer. Cancers 2024, 16, 2182. https://doi.org/10.3390/cancers16122182