Uma revisão de ensaios clínicos da Women’s Health Initiative (WHI) demonstrou que além de aliviar os fogachos e outros sintomas incômodos da menopausa, a terapia de reposição hormonal com estrogênio isolado pode diminuir o risco de câncer de mama. Os resultados foram publicados no JAMA, em artigo que também traz resultados sobre suplementação de cálcio mais vitamina D e dieta com baixo teor de gordura e suas aplicações na prática clínica atual. O ginecologista José Carlos Sadalla (foto) comenta os resultados.

Aproximadamente 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo são mulheres na pós-menopausa. Para informar a prática clínica sobre os efeitos na saúde da terapia hormonal da menopausa, suplementação de cálcio mais vitamina D e um padrão alimentar com baixo teor de gordura, a Women's Health Initiative (WHI) inscreveu 161.808 mulheres norte-americanas na pós-menopausa (N = 68.132 nos ensaios clínicos) com idade entre 50 e 79 anos no baseline, entre 1993 e 1998, que foram acompanhadas por até 20 anos.

Na análise da terapia de reposição hormonal com estrogênio mais progesterona, o câncer de mama foi um endpoint primário para monitoramento de segurança, e a mortalidade por câncer de mama foi um endpoint secundário pré-especificado no protocolo. Em comparação com o placebo, a terapia de reposição hormonal combinada aumentou significativamente a incidência de câncer de mama em 24% aos 5,6 anos (0,43% vs 0,35% anualmente; HR, 1,24; IC 95%, 1,01-1,53).

No acompanhamento de 20 anos, estrogênio + progresterona em comparação com placebo aumentou significativamente a incidência de câncer de mama (0,45% vs 0,36%; HR, 1,28; IC 95%, 1,13-1,45). A mortalidade por câncer de mama aumentou significativamente no acompanhamento de 11 anos, mas esse efeito não foi estatisticamente significativo no acompanhamento de 20 anos. 

Efeitos do estrogênio isolado

Entre as mulheres com histerectomia prévia randomizadas apenas para terapia de reposição hormonal com estrogênio isolado em comparação com placebo, a taxa de câncer de mama, o endpoint primário de segurança, foi não significativamente menor (0,28% vs 0,35%; HR, 0,79; IC 95%, 0,61-1,02) durante a intervenção, sem diferenças significativas nos resultados por faixa etária.

Aos 10,7 anos de acompanhamento, as taxas de câncer de mama foram significativamente mais baixas no grupo que recebeu estrogênio isoladamente em comparação com o grupo placebo (0,27% vs 0,35%; HR, 0,77; IC 95%, 0,62-0,95), com persistência de reduções de risco significativas no acompanhamento de 12 e 20 anos.

Reduções significativas nas mortes por câncer de mama entre mulheres que receberam apenas estrogênio versus placebo foram observadas no acompanhamento de 12 anos e persistiram nas análises no acompanhamento de 20 anos (0,031 % versus 0,046%; HR, 0,60; IC 95%, 0,37-0,97).

“A reposição hormonal com estrógeno e progesterona aumentou o risco de câncer de mama em 24%. Entretanto, nas usuárias de estrógeno isolado (pacientes histerectomizadas), não ocorreu este aumento; sendo esta terapia segura em relação ao câncer de mama nestas pacientes", afirmou José Carlos Sadalla, titular do Núcleo de Cirurgia Oncológica - Mastologia e Ginecologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e do Hospital Sírio-Libanês, e médico do setor de ginecologia oncológica do ICESP (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo). "Este estudo também não mostrou benefício da suplementação de cálcio e vitamina D na prevenção de fraturas, tampouco uma dieta pobre em gorduras na prevenção do câncer de mama e colorretal", acrescentou.

Referência: Manson JE, Crandall CJ, Rossouw JE, et al. The Women’s Health Initiative Randomized Trials and Clinical Practice: A Review. JAMA. Published online May 01, 2024. doi:10.1001/jama.2024.6542