Estudo publicado no Journal of the National Cancer Institute (JNCI) demonstrou riscos aumentados em longo prazo de cardiomiopatia/insuficiência cardíaca e doença cardíaca isquêmica entre sobreviventes de câncer de mama tratadas com antraciclinas e/ou trastuzumabe, e aumento do risco de cardiomiopatia/insuficiência cardíaca entre mulheres com idade <65 anos.

“Embora se saiba que sobreviventes de câncer de mama correm risco de doença cardiovascular (DCV) devido aos efeitos tardios do tratamento, faltam evidências que informem as recomendações de vigilância cardiovascular em longo prazo e específicas para a idade.

Nesse estudo, os pesquisadores realizaram um estudo de coorte retrospectivo de 10.211 mulheres com diagnóstico de primeiro câncer de mama unilateral primário no Kaiser Permanente Washington ou Colorado (com mais de 20 anos, sobrevida ≥1 ano).

Foram estimadas taxas de risco ajustadas multivariadas (aHR) para associações entre o tipo de regime de quimioterapia inicial (antraciclina e/ou trastuzumabe, outras quimioterapias, sem quimioterapia [referência]) e risco de doenças cardiovasculares, ajustadas para características do paciente, outros tratamentos e fatores de risco de doenças cardiovasculares. A incidência cumulativa foi calculada considerando eventos concorrentes.

Resultados

Após uma mediana de 5,79 anos, 14,67% das mulheres desenvolveram doenças cardiovasculares (cardiomiopatia/insuficiência cardíaca (MC/IC), doença cardíaca isquêmica (DIC), acidente vascular cerebral). Mulheres tratadas com antraciclinas e/ou trastuzumabe tiveram maior risco de doenças cardiovasculares em comparação com nenhuma quimioterapia (aHR=1,53, 95% IC=1,31-1,79), persistindo 5+ anos após o diagnóstico (aHR5-<10 anos = 1,85, 95% IC = 1,44-2,39; aHR10+ anos=1,83, 95% IC = 1,34-2,49).

Os riscos de cardiomiopatia/insuficiência cardíaca foram elevados entre mulheres tratadas com antraciclinas e/ou trastuzumabe em comparação com nenhuma quimioterapia, especialmente para idades <65 anos (aHR20-54 anos=2,97, 95% IC = 1,72-5,12; aHR55-64anos = 2,21, 95% CI = 1,52-3,21), diferindo para mulheres mais velhas (aHR65+anos=1,32,95% IC = 0,97-1,78) e 5+ anos pós-diagnóstico (aHR5-<10anos = 1,89, 95% IC = 1,35-2,64; aHR10+ anos=2,21, IC 95% = 1,52-3,20).

O recebimento de antraciclinas e/ou trastuzumabe foi associado ao aumento do risco de doença cardíaca isquêmica após 5+ anos (aHR5-<10anos = 1,51, 95% IC = 1,06-2,14; aHR10+anos=1,86, 95% CI = 1,18-2,93) sem efeitos claros por idade, e risco de acidente vascular cerebral (aHR = 1,33, IC95% = 1,05-1,69) que não variou com o tempo ou idade.

“Houve alguma evidência de riscos em longo prazo de cardiomiopatia/insuficiência cardíaca e doença cardíaca isquêmica com outras quimioterapias. Entre as mulheres com menos de 65 anos tratadas com antraciclinas e/ou trastuzumabe, até 16% desenvolveram doenças cardiovasculares em 10 anos (20-54=6,91%;55-64=16,00%), causada por MC/IC (20-54=3,90%; 55-64=9,78%)”, destacaram os autores.

Referência: Jacqueline B Vo, Cody Ramin, Lene H S Veiga, Carolyn Brandt, Rochelle E Curtis, Clara Bodelon, Ana Barac, Véronique L Roger, Heather Spencer Feigelson, Diana S M Buist, Erin J Aiello Bowles, Gretchen L Gierach, Amy Berrington de González, Long-term cardiovascular disease risk after anthracycline and trastuzumab treatments in U.S. breast cancer survivors, JNCI: Journal of the National Cancer Institute, 2024;, djae107, https://doi.org/10.1093/jnci/djae107