Giovana Tardin Torrezan (foto), do AC Camargo Cancer Center, é autora sênior de estudo brasileiro publicado na Cancers com novos dados para compreender a relação entre sarcomas e a síndrome de Lynch (LS). A conclusão dos autores indica que sarcomas representam uma manifestação clínica rara em pacientes com LS, especialmente em portadores de alterações em MSH2, e a análise das características biológicas do tumor pode ser útil para definição da etiologia e de novas opções terapêuticas.
A síndrome de Lynch (LS) é uma síndrome de predisposição hereditária ao câncer causada por mutações da linha germinativa nos genes MLH1, MSH2, MSH6 e PMS2, além de raras deleções no EPCAM que perturbam a expressão de MSH2. A condição está associada principalmente a um risco maior de desenvolver tumores colorretais (CRC) e endometriais (CE), mas também predispõe a várias neoplasias extracolônicas, como tumores gástricos, uroteliais, de intestino delgado, ovário, cérebro e hepatobiliares. Dentro do espectro de tumores extracolônicos relacionados a LS, tumores sebáceos e queratoacantomas ocorrem na síndrome de Muir-Torre (MTS), uma variante que compreende 1 a 3% dos casos de LS.
O objetivo deste estudo foi avaliar a ocorrência de sarcomas em uma coorte de pacientes com tumores da LS e através da caracterização clínica e molecular contribuir para elucidar a etiologia desses sarcomas.
Para esta análise os pesquisadores revisaram relatórios clínicos de mais de 6600 pacientes com câncer (incluindo 178 pacientes com LS) e identificaram 24 pacientes com CRC, CE e outros tumores associados a LS com história pessoal ou familiar de sarcomas. Foram realizados testes genéticos da linha germinativa, imuno-histoquímica da proteína de reparo do DNA (MMR), instabilidade de microssatélites (MSI) e outras análises moleculares.
Os resultados permitiram identificar 5 pacientes com LS com história pessoal ou familiar de sarcomas (3 portadores de MSH2 e 2 MLH1), sendo 2 com fenótipos de Muir-Torre. “Para dois portadores de MSH2, confirmamos a etiologia dos sarcomas (um lipossarcoma e dois osteossarcomas) como relacionados a LS, uma vez que os tumores apresentavam deficiência de MSH2 / MSH6, alta MSI e alterações no transcrito de MSH2”, explicam os autores.
Em resumo, os sarcomas representam uma manifestação clínica rara em pacientes com LS, especialmente em portadores de alterações de MSH2, e a análise das características biológicas do tumor pode ser útil para definição da etiologia do tumor e novas opções terapêuticas.
"Embora o risco de desenvolvimento dos sarcomas em pacientes com LS seja claramente baixo quando comparado aos demais tumores da síndrome, o reconhecimento dessa associação é importante tanto para o aconselhamento genético das famílias com esse diagnóstico quanto para possibilitar o diagnóstico genético de LS em pacientes com sarcomas no qual uma alta MSI ou alterações nos genes MMR são identificados por análises do perfil molecular do tumor", conclui Giovana.
Referência: de Angelis de Carvalho, N.; Niitsuma, B.N.; Kozak, V.N.; Costa, F.D.; de Macedo, M.P.; Kupper, B.E.C.; Silva, M.L.G.; Formiga, M.N.; Volc, S.M.; Aguiar Junior, S.; Palmero, E.I.; Casali-da-Rocha, J.C.; Carraro, D.M.; Torrezan, G.T. Clinical and Molecular Assessment of Patients with Lynch Syndrome and Sarcomas Underpinning the Association with MSH2 Germline Pathogenic Variants. Cancers 2020, 12, 1848.