Onconews - SBM mostra grandes divergências entre cirurgiões brasileiros na marcação mamária e axilar no cenário neoadjuvante do câncer de mama

Pesquisa que considerou os conhecimentos e atitudes dos membros da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) quanto ao manejo e tratamento do câncer de mama no cenário neoadjuvante revela grandes divergências entre os cirurgiões brasileiros em relação a muitas questões relacionadas à marcação mamária e axilar. O trabalho está disponível na Frontiers in Oncology e tem como primeiro autor o mastologista Henrique Lima Couto (foto), Presidente do Departamento de Imagem da SBM e Membro da Comissão Nacional de Mamografia.

O tratamento cirúrgico é a base terapêutica para a maioria dos casos de câncer de mama. Neste contexto, os autores destacam que a localização precisa do local do tumor é fundamental para alcançar margens claras e o sucesso no tratamento cirúrgico, diminuindo assim as taxas de reoperação e recorrências locais. A administração de quimioterapia neoadjuvante (NAC) representa outro importante desafio, uma vez que a localização incerta do local do tumor, assim como a ressecção insuficiente, podem levar a maiores taxas de recorrência em pacientes submetidos a NAC (21,4% em 15 anos) em comparação com aquelas de pacientes submetidas a quimioterapia adjuvante (15,9%).

Nesta pesquisa, 28 questões objetivas foram formuladas sobre aspectos relevantes relacionados à marcação da mama e axila no cenário neoadjuvante, das quais 22 foram estruturadas na escala Likert. Os autores consideraram consensuais as respostas que obtiveram 70% de concordância.

A pesquisa foi realizada online entre junho e dezembro de 2022 e convidou anonimamente todos os 1.742 mastologistas ativos filiados à SBM. Os resultados revelam que 468 mastologistas responderam ao questionário (26,8%), com predomínio de profissionais certificados (84,8), com idade entre 40–49 anos (32,1%), sendo 50,4% homens, majoritariamente residentes nas capitais (63,9%). Entre as 28 questões propostas, a análise mostra que o consenso foi alcançado em apenas 11 (39,3%).

Os autores descrevem que a indicação de marcação tumoral na mama antes da quimioterapia neoadjuvante (NAC) foi consensual (96,4%) e o clipe metálico foi o método preferido (69,7%). Não houve consenso quanto à indicação de marcação histológica positiva dos linfonodos pré-NAC (49,8% discordam e 42,8% concordam), mas houve consenso de que a avaliação clínica e de imagem é insuficiente para estadiamento da axila como N1 (71,6%).

Outro achado relevante mostra que a contraindicação da marcação da mama e dos linfonodos em tumores T4b também foi consensual, com 71,2% de concordância, assim como houve consenso sobre a indicação de biópsia de linfonodo sentinela (BLS) para tumores inicialmente cN1 (92,3%) ou cN2 (72,7%) que se tornaram cN0 após NAC, com 67,5% optando pela coloração dupla com tecnécio e azul patente. A pesquisa indica que 41,0% dos mastologistas realizaram linfadenectomia axilar quando <3 linfonodos foram recuperados.

Em conclusão, a pesquisa mostra que a indicação de marcação mamária pré-NAC é consensual entre os mastologistas brasileiros, embora a marcação dos linfonodos axilares não seja, evidenciando grandes divergências entre os cirurgiões brasileiros sobre questões relacionadas à marcação mamária e axilar pré-NAC.

Além de Henrique Lima Couto (SBM e Redimama - Redimasto, Belo Horizonte, MG), o trabalho tem participação de Augusto Tufi Hassan (SBM e Grupo Oncoclínicas, Salvador, BA), Dalton Ivan Steinmacher (SBM e UniCesumar, Maringá, PR), Eduardo Carvalho Pessoa (SBM e Escola Médica de Botucatu (UNESP), SP), Eduardo Camargo Millen (SBM e Américas Oncologia, RJ), Felipe Zerwes (SBM e PUC do  Rio Grande do Sul, RS), Francisco Pimentel Cavalcante (SBM e  Hospital Geral de Fortaleza, CE), Giuliano Tosello (SBM e Instituto do Câncer Oeste Paulista, Presidente Prudente, SP) Guilherme Novita (SBM e Oncoclínicas São Paulo, SP), Gustavo Machado Badan (SBM e Santa Casa de São Paulo, SP),  Luis Esteves Francisco (SBM e Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, SP), Leonardo Ribeiro Soares (SBM e Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO), Lucas Roskamp Budel (SBM e Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR),Luciano Fernandes Chala  (Grupo Fleury Medicina e Saúde, São Paulo, SP), Raquel Civolani Marques Fernandes (Laboratório de Anatomia Patológica e Biologia Molecular da Rede Américas, São Paulo, SP), Ruffo de Freitas-Junior (SBM e  Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO),  Vilmar Marques de Oliveira, (SBM e Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP), Vinicius Milani Budel, (SBM e Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR)  e André Mattar (SBM e Hospital da Mulher, São Paulo, SP).

A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto.

Referências:

Breast and Axillary Marking in the Neoadjuvant Setting: Survey Results from Experts of the Brazilian Society of Mastology. Front. Oncol., 08 October 2024. Sec. Breast Cancer - Volume 14 - 2024 | https://doi.org/10.3389/fonc.2024.1393417