A agência de pesquisa da OMS prevê 22 milhões de novos casos de câncer em 2030, com 13 milhões de mortes, a maior parte em países pobres e em desenvolvimento. Estudos publicados no Lancet Oncology mostram discrepâncias profundas na assistência oncológica na América Latina e ajudam a dimensionar os desafios. No Dia Mundial de Combate ao Câncer, Gustavo Fernandes (foto), presidente da SBOC, reforça o apelo à prevenção e comenta o cenário da oncologia brasileira.
Dados publicados no Lancet Oncology (Vol. 16, no.2) mostram que o câncer é o agravo à saúde que mais cresce no mundo, ao lado das cardiovasculares. O peso da doença representa um gasto global estimado hoje em 2 trilhões de dólares, aproximadamente 1,8% do PIB mundial, e fica evidente a importância de novas estratégias de enfrentamento. “Temos reafirmado a importância de prevenir o que pode ser prevenido”, resume Fernandes.
Para reduzir as desigualdades e barreiras no enfrentamento do câncer, o presidente da SBOC reforça o apelo às ações de prevenção, mas lembra que várias frentes de cuidados precisam estar alinhadas. “Uma das coisas mais vergonhosas do Brasil é a incidência e mortalidade por câncer do colo do útero, uma doença prevenível e que poderia ter tido um enfrentamento mais precoce. Sabemos que agora a vacina contra o HPV já está liberada no Brasil, mas até que possamos colher os resultados teremos mortes que poderiam ter sido evitadas, principalmente no Norte e Nordeste”, diz.
No ano passado, estudo realizado por pesquisadores brasileiros como parte do projeto Juriti, confirmou que a prevalência da infecção por HVP no norte do Brasil é acima da média mundial, principalmente as variantes associadas com o desenvolvimento do câncer de colo do útero (HPV16 e HPV18).
Diagnóstico precoce é outra necessidade urgente no cenário brasileiro. O oncologista Gustavo Fernandes lembra que até hoje a chamada Lei dos 60 dias não foi capaz de vencer dificuldades de acesso e superar os vazios de infra-estrutura na assistência oncológica. “Quando o paciente finalmente consegue um diagnóstico, muitas vezes ele já está lutando há um ano, às vezes por tempo ainda maior. Encurtar essa espera é um compromisso de todos. É fundamental alocar recursos para o tratamento de alta complexidade, mas ações essenciais, como prevenção, precisam ser sempre hierarquizadas, incluindo aqui rastreamento e diagnóstico precoce”, propõe.
Por outro lado, o especialista observa que a pressão pelo acesso às terapias sistêmicas e o fenômeno da judicialização da saúde denunciam um ambiente de muitos contrastes. “O que falta, e não dá mais para adiar, é balancear todas essas questões, que hoje estão em profundo desequilíbrio”.
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