De acordo com dados publicados no Cancer Prevention Research, jornal da Associação Americana para Pesquisa do Câncer, a análise do microbioma intestinal permite distinguir com sucesso indivíduos saudáveis daqueles com pólipos adenomatosos pré-cancerosos e com câncer colorretal invasivo.
A técnica é superior se comparada com a avaliação de fatores de risco clínicos e testes de sangue oculto nas fezes.
A análise do microbioma intestinal é o conjunto de todas as bactérias presentes no intestino de um indivíduo. O número de bactérias supera o número de células no organismo humano e a diversidade das bactérias presentes é fundamental para a nossa saúde. “Por sequenciamento da região V4 do gene 16S rRNA, fomos capazes de identificar as bactérias presentes no microbioma intestinal de cada indivíduo”, explica Patrick Schloss, professor associado do Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade de Michigan em Ann Arbor.
Ao analisar amostras de fezes de 90 indivíduos – 30 indivíduos saudáveis, 30 pacientes com pólipos adenomatosos pré-cancerosos e 30 pacientes com câncer colorretal invasivo - Schloss e colegas estabeleceram que a composição do microbioma intestinal foi diferente para os indivíduos nos três grupos. Com essa informação, eles identificaram assinaturas do microbioma intestinal para cada grupo pesquisado. A análise das assinaturas foi adicionada a um conjunto de dados, como idade e raça, fatores de risco clínico para pólipos adenomatosos pré-cancerosos, e com esse conjunto de análise houve uma melhoria de 5,4 vezes na previsão da presença dos pólipos.
"Se os resultados forem confirmados em grupos maiores, acrescentar a análise do microbioma intestinal a outros testes fecais pode proporcionar uma melhoria na forma não-invasiva de detectar o câncer colorretal", afirma.
Além disso, a análise das assinaturas do microbioma intestinal foi melhor do que o teste de sangue oculto nas fezes para distinguir indivíduos com pólipos adenomatosos pré-cancerosas de pacientes com câncer colorretal invasivo (AUC = 0,617 e AUC = 0,952, respectivamente). A avaliação do IMC, os resultados dos testes de sangue oculto nas fezes e assinaturas do microbioma intestinal, juntos, podem melhorar ainda mais a capacidade de distinguir entre as duas condições (AUC = 0,969).
"Nossos dados mostram que a análise do microbioma intestinal tem o potencial para ser uma nova ferramenta complementar para o screening não-invasivo para o câncer colorretal", disse Schloss.
O estudo foi financiado pelo National Institute of Health e envolveu microbiologistas, pesquisadores qualificados em estatística, genômica e epidemiologia
Endomicroscopia confocal
A especialista Aline Charabaty, do Georgetown University Hospital, de Washington, Estados Unidos, esteve presente no XVIII Curso Internacional de Colonoscopia, promovido pelo Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa (IEP-HSL), para apresentar uma nova tecnologia, a endomicroscopia confocal (confocal laser endomicroscopy – CLE), que permite a obtenção de imagens microscópicas “ïn vivo" da mucosa do trato gastrointestinal e, assim, a definição mais eficiente dos resultados patológicos. “O diferencial da endomicroscopia confocal é permitir ver diretamente no momento da endoscopia, colonoscopia ou ecoendoscopia como é a aparência do tecido. Com o CLE nós podemos ver em tempo real que tipo de histologia nós temos”, explica Aline.
Segundo a especialista, o teste ainda é muito caro, como qualquer nova tecnologia utilizada ainda em escala limitada. “Acredito que essa técnica tem muito a oferecer e vai certamente evoluir no futuro. Quando estiver mais difundida, o custo deve cair”, prevê.
A Santa Casa de São Paulo foi o primeiro hospital brasileiro a implantar a endomicroscopia confocal, em outubro do ano passado, e hoje é um dos quatro centros mundiais de treinamento na técnica. O ICESP também já possui o equipamento, e o Hospital Sírio-libanês está em finalização do processo de compra.
Rastreamento do câncer colorretal no Brasil
O rastreamento também foi pauta do curso de colonoscopia. Segundo seu coordenador, Lúcio Rossini, a discussão do assunto foi um dos pontos fortes do evento. “É uma discussão social, mais do que tecnológica. O número de mortes por ano por câncer de cólon é aproximadamente o dobro em relação às mortes de mulheres por câncer de colo uterino. E fazemos o teste do papanicolau anual ou bianualmente”, afirmou.
O problema, segundo ele, é que a colonoscopia é um método mais invasivo, trazendo alguns riscos. Além disso, não existem médicos nem equipamentos suficientes no país para realizar a colonoscopia em toda a população de médio risco, pessoas de 50 a 75 anos, mesmo sem sintomas. Alguns países recomendam uma única colonoscopia aos 60 anos, outros uma colonoscopia a cada dez anos. Rossini acha difícil que, atualmente, o Brasil tenha recursos para indicar o exame em todos os pacientes a partir dos 50 anos. “Mais fácil fazer uma colonoscopia aos 60 anos, o que não é feito no sistema público. Na minha opinião, já seria um começo”, afirma.
O endoscopista acrescenta que a necessidade do exame é ainda maior na população com antecedentes familiares de câncer colorretal, quando é preciso começar o exame aos 40 anos, no mínimo, ou 10 anos antes da idade em que o familiar teve a doença. “Na presença de sintomas, não existe idade para a realização”.