Selecionado para apresentação em Sessão Plenária no Congresso Anual da Sociedade Internacional de Geriatria Oncológica (SIOG 2020), estudo brasileiro analisou a viabilidade de uma avaliação geriátrica pragmática (PGA) para verificar os domínios geriátricos mais críticos em pacientes idosos com câncer. O oncologista Antonio Fabiano Ferreira Filho (foto), diretor médico da clínica Oncosinos, em Novo Hambugo (RS), é primeiro autor do trabalho, em artigo que tem a oncologista Daniela Lessa da Silva como coautora.
Em todo o mundo, a maioria dos pacientes geriátricos com câncer não recebe qualquer forma de avaliação geriátrica. A falta de tempo e de recursos humanos, a complexidade dos exames geriátricos bem como questões financeiras são os motivos frequentemente citados para a não realização dessas necessárias avaliações nesta população de pacientes.
“Avaliamos a capacidade de nossa PGA para ajudar a equipe de oncologia a projetar decisões médicas sob medida para nossos pacientes, bem como implementar medidas preventivas essenciais antes ou concomitantemente ao tratamento planejado”, esclarecem os autores.
Métodos e resultados
Previamente à primeira consulta ao paciente, a equipe de enfermagem aplicou o RDGA que consiste em teste de velocidade da marcha (teste de 4 metros), questionário de polifarmácia, mini-avaliação nutricional, escala de depressão geriátrica-5 (GDS-5), e mini-Cog. Foram analisados a estatística descritiva da população e os resultados do RDGA, com atenção especial ao tempo de realização das avaliações.
Em seis meses, 61 pacientes com mais de 60 anos foram avaliados (59% mulheres). A mediana de idade foi de 74 anos (variação de 62-92). O tempo médio para completar o RDGA foi de 9,5 minutos (variação de 5-16), e o tratamento foi paliativo em 49% dos pacientes.
De acordo com a avaliação da velocidade da marcha, 36% dos pacientes foram classificados como fit (≥ 1m / s), 41% pré-frágeis (<1m / s> 0,6m / s) e 23% frágeis (≤ 0,6m / s). Mini-Cog e GDS-5 foram demonstraram alterações em 45% e 25% dos pacientes. Risco nutricional e polifarmácia (> 3 medicamentos) estiveram presentes em 62% e 48% dos pacientes, respectivamente.
Demografia e características dos pacientes
| |
Total de pacientes | 71 pacientes |
Idade média | 73 anos (61-93) |
Intenção paliativa de tratamento | 34 pacientes (48%) |
Tempo médio para realizar RDGA | 9,5 min (5-16) |
Velocidade média de marcha | 0,94m / s (0,19-1,69) |
Pacientes Não-frágeis (> 1m / s) | 28 pacientes (39%) |
Pré-frágil (<1 m / s> 0,6 m / s) | 28 pacientes (39%) |
Frágil (<0,6 m / s) | 15 pacientes (22%) |
Polifarmácia (> 3 medicamentos) | 36 pacientes (51%) |
Risco de desnutrição | 44 pacientes (62%) |
Risco de depressão | 16 pacientes (23%) |
Risco de deficiência cognitiva ou demência | 30 pacientes (42%) |
“Nossos resultados demonstraram que o RDGA não só é viável e eficaz, mas também prático, revelando informações clínicas críticas para a equipe de oncologia em apenas 10 minutos, em média. Sua utilização é altamente adequada em unidades oncológicas com alto fluxo”, destacam os autores.
A ferramenta pode ser acessada através do site www.oncosenior.com, e já está disponível em português, inglês e francês. “A PGA foi disponibilizada para uso livre por oncologistas e profissionais de saúde. O objetivo é ampliar o acesso e oferecer a possibilidade de tratamentos mais individualizados. A utilização em grande escala da ferramenta tem potencial de economizar milhões de dólares em gastos em saúde”, concluem.