A endoscopista e pesquisadora Denise Guimarães (foto), coordenadora do programa de rastreamento do câncer colorretal do Hospital de Câncer de Barretos, é primeira autora de estudo publicado na Cancer Prevention Research que detalha os resultados dos primeiros dois anos do programa de rastreamento baseado no teste imunoquímico fecal (FIT) seguido da colonoscopia nos casos positivos, realizado na instituição.
Entre 2015 e 2017, foram atendidos 6.737 indivíduos no Ambulatório de Prevenção ou nas Unidades Móveis da instituição, que atendem 18 municípios da região. Os participantes tinham entre 50 e 65 anos de idade e foram convidados pessoalmente por um agente de saúde/enfermeiro. Para avaliação da qualidade e eficácia do programa, foram avaliadas as diretrizes da União Europeia (UE) para programas de rastreamento do câncer colorretal.
Resultados
No geral, 92,8% dos participantes retornaram o FIT para análise, com uma taxa de exames inadequados de apenas 1,5%. Entre os 6.253 testados, 12,5% tiveram resultado positivo. A taxa de adesão da colonoscopia foi de 84,6% com taxas de colonoscopias completas de 98,2%. Os valores preditivos positivos (do inglês, positive predictive value - PPVs) foram 60,0%, 16,5% e 5,6% para adenoma, adenoma avançado e câncer, respectivamente. “Vale ressaltar, que os estádios dos cânceres detectados pelo programa de rastreamento foram significativamente mais precoces do que aqueles relatados nos registros de câncer colorretal Nacional (pelo Instituto Nacional de Cancer -INCA), do Estado de São Paulo (pela Fundação Oncocentro de São Paulo -FOSP) e no registro do Hospital de Câncer de Barretos no mesmo período, e na mesma faixa etária”, observa Denise.
“Nosso programa de rastreamento, que teve apoio do Ministério Público do Trabalho de Campinas e do próprio Hospital de Câncer de Barretos, atingiu métricas de qualidade desejáveis, alinhadas com as diretrizes da União Europeia. O fato dos tumores detectados no rastreamento apresentarem em estádios mais precoces em comparação com aqueles que são relatados nos registros hospitalares, sugere uma oportunidade única de melhorar o diagnóstico e resultados no câncer colorretal” , destacaram os autores.
“Estudos internacionais já mostraram que o CCR é um câncer altamente prevenível, e o seu rastreamento é capaz de levar a uma redução da sua incidência e mortalidade, além de ser custo-efetivo. Os nossos resultados indicam que o rastreamento organizado e de qualidade do CCR no Brasil é possível, e pode mudar o atual cenário deste câncer no país, com potencial de reduzir a sua elevada mortalidade”, concluíram.
Referência: The performance of colorectal cancer screening in Brazil: the first two years of the implementation program in Barretos Cancer Hospital - Denise Peixoto Guimarães et al - Cancer Prev Res September 30 2020 DOI: 10.1158/1940-6207.CAPR-20-0179