O neuro-oncologista Olavo Feher, presidente da Comissão Científica do “SNOLA 2016 – Update in Neuro-Oncology”, comenta os destaques do evento, que aconteceu entre os dias 24 e 26 de março, no Rio de Janeiro, reunindo 26 palestrantes internacionais, líderes de opinão nas diversas áreas que compõem a neuro-oncologia (neurocirurgia, neuro-oncologia clínica, radio-oncologia, oncologia pediátrica, neuro-patologia e neuro-imagem), além de expoentes nacionais da especialidade.
Os números do evento mostram o grande interesse no campo da neuro-oncologia. Foram cerca de 530 inscritos, que mantiveram uma excelente participação nas quatro salas paralelas para as conferências temáticas e praticamente lotaram as salas nas sessões plenárias. Entre temas livres orais e pôsteres, foram submetidos 131 trabalhos, 119 apresentados na forma de pôster e 19 temas livres orais.
Além das tradicionais apresentações orais de atualização nas diferentes áreas, tivemos discussões de casos em todas as salas, além dos “firing squads”, nos quais experts em diferentes áreas eram submetidos a diversas questões específicas para respostas em um tempo bastante limitado, sujeitas a escrutínio pelos “juízes”. Um modo criativo de discutir certos tópicos críticos a todos.
Dentre os vários temas apresentados e discutidos, merecem destaque as palestras apresentadas nas Sessões Plenárias. No dia 24 de março, o neuro-oncologista David Reardon, do Dana-Farber Cancer Institute, apresentou uma revisão sobre os achados do TCGA (“The Cancer Genome Atlas”) nos gliomas e seu significado. O especialista mostrou que os glioblastomas apresentam múltiplas alterações no número de cópias de diversos genes, e frequentemente mutações encontradas em glioblastomas envolvem genes supressores de tumor e oncogenes “drivers”, com numerosas alterações genéticas complexas e redundantes que acabam por desregular algumas vias de sinalização celular importantes. Além disso, Reardon explicou que os glioblastomas podem ser divididos pelo perfil de expressão gênica em quatro subtipos, e que o genoma do glioblastoma é caracterizado por frequentes rearranjos estruturais cromossômicos.
De modo complementar, o biólogo molecular e especialista em bioinformática Houtan Noushmehr, da Universidade de São Paulo, abordou os achados epigenéticos do TCGA sob o ponto de vista do status de metilação global dos gliomas de baixo e alto grau, associados ao status mutacional do genes IDH (1/2). O especialista mostrou a importância da metilação do DNA nos gliomas como ferramenta para distinguir subtipos de maneira eficente, e trouxe dados indicando que 8 a 9% dos glioblastomas primários apresentam o fenótipo G-CIMP/IDH, 80% dos gliomas de baixo grau são G-CIMP e 20% são glioblastomas, sendo que 1% são “normal-like”. Noushmehr explicou ainda que novos subtipos de gliomas de baixo grau IDH e sem deleção 1p19q são identificáveis através do estudo do perfil “metilacional” do DNA destes tumores.
Muitas outras plenárias marcaram o evento, discutindo diversos temas importantes como o uso de terapia com campos elétricos (Mark Gilbert), radioterapia em gliomas (Minesh Mehta) e metástases (Luís Souhami), cirurgia em metastases cerebrais (Raymond Sawaia), papel da RNM intraoperatória na neurocirurgia dos tumores (Michael Vogelbaum), o potencial da terapia-alvo nos gliomas (Vinay Pudvalli), imunologia (Edjah Hdoum), imunoterapia em gliomas (Amy Heimberger), novas terapias em estudos fase I (Gregory Riggins), o papel do bevacizumabe nos gliomas (Andreas Hottinger) e avanços na cirurgia dos glioblastomas.
Sem dúvida, o SNOLA 2016 foi acima de tudo um sucesso educacional, evidenciando o enorme interesse despertado pela neuro-oncologia.