Onconews - Status molecular no carcinoma papilífero de tireoide e associação clínico-patológica

eduardo donadiEduardo Antonio Donadi (foto), professor de Imunologia da Universidade de São Paulo, é autor sênior de estudo multicêntrico que avaliou o papel individual e colaborativo de BRAF, TERT, HLA-G e microRNAs no carcinoma papilífero de tireoide (CPT).  Donadi e colegas mostram que miRNAs expressos no microambiente tumoral que têm como alvo os genes BRAF, TERT e/ou HLA-G estão envolvidos em importantes vias de sinalização associadas à patogênese do CPT.

Os autores descrevem que a expressão de HLA-G e BRAF no tumor foi avaliada por imuno-histoquímica, enquanto as mutações do promotor BRAFV600E e TERT foram avaliadas em aspirados de agulha fina da tireoide, por métodos moleculares. Para o perfil tumoral de microRNAs a pesquisa utilizou sequenciamento de nova geração.

Os resultados mostram forte HLA-G (67,96%), enquanto a coloração BRAF (62,43%) foi observada em amostras de CPT. A análise revela que a superexpressão de BRAF foi associada à má resposta à terapia. Os autores descrevem que as mutações BRAFV600E (52,9%) e TERTC228T (13%) foram associadas à extensão extratireoidiana, idade avançada e câncer em estágio avançado. Os genótipos TERT rs2853669 CC+TC (38%) foram super-representados em tumores metastáticos. Nove microRNAs direcionados aos genes BRAF, TERT e/ou HLA-G foram observados no CPT e estão envolvidos com vias de sinalização relacionadas ao câncer.

“Relatamos que cada um dos marcadores HLA-G, BRAF e TERT pode ser usado independentemente para identificar características clinicopatológicas ruins do CPT, incluindo o potencial efeito sinérgico desfavorável de BRAFV600E e TERTC228T, ainda que o estudo não tenha demonstrado totalmente um papel cooperativo de todos os três marcadores para o prognóstico do CPT”, destacam os autores, acrescentando que miRNAs expressos no microambiente do CPT que têm como alvo os genes BRAF, TERT e/ou HLA-G estão envolvidos em importantes vias de sinalização associadas ao câncer na patogênese do CPT e pelo menos em parte podem explicar o aumento da expressão desses genes/proteínas no meio tumoral.

"A busca de marcadores associados ao comportamento do carcinoma papilifero de tireoide (CPT) é um dos principais objetivos para o avanço do seu tratamento e prognóstico, uma vez que o risco de recorrência e/ou persistência da doença é substancial. Nosso estudo confirma associações importantes dos marcadores BRAF, TERT e HLA-G com caracateristicas clinico-patológicas de pior prognóstico clínico. Adicionalmente, identificamos miRNAs diferencialmente expressos no ambiente tumoral que potencialmente regulam a expressão desses marcadores e que já foram previamente associados ao câncer. Esses achados fornecem uma compreensão mais abrangente da complexa manifestação clínica do CPT, bem como da regulação gênica que ocorre no ambiente tumoral", conclui Bruna Bertol, primeira autora do artigo.

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto no International Journal of Molecular Sciences.

Referência: Bertol, B.C.; Massaro, J.D.; Debortoli, G.; Santos, A.L.P.; de Araújo, J.N.G.; Giorgenon, T.M.V.; Costa e Silva, M.; de Figueiredo-Feitosa, N.L.; Collares, C.V.A.; de Freitas, L.C.C.; et al. BRAF, TERT and HLA-G Status in the Papillary Thyroid Carcinoma: A Clinicopathological Association Study. Int. J. Mol. Sci. 2023, 24, 12459. https://doi.org/10.3390/ijms241512459