Estudo do ICESP publicado no Journal of Global Oncology apresentou resultados de uma análise retrospectiva que avaliou 222 pacientes com carcinoma de células renais de células claras metastático (ccRCC) tratados com um TKI de primeira linha (sunitinibe ou pazopanibe) entre fevereiro de 2009 e março de 2017. O estudo tem como primeiro autor o oncologista Pedro Henrique Isaacsson Velho (foto) e os resultados podem ter implicações no sistema público de saúde.
Sunitinibe e pazopanibe são inibidores de tirosina quinase (TKIs) com múltiplos alvos que agem contra os receptores do fator de crescimento endotelial vascular e são opções de tratamento padrão de primeira linha no tratamento do carcinoma de células renais de células claras avançado (ccRCC). “É essencial descrever a história do CCRcc avançado durante e após o tratamento com TKI nessa população, em pacientes atendidos no sistema público de saúde”, afirmam os autores.
Dos 222 pacientes, 109 foram tratados com sunitinibe e 113 com pazopanibe. Ambos os grupos apresentavam metástases, sendo pulmão o sítio mais afetado (75%), seguido por metástase linfonodal (62,1%), óssea (39%) e hepática (20%). A duração mediana do tratamento e sobrevida global (SG) foi de 6,4 e 15,2 meses para sunitinibe e 6,7 e 14,2 meses para pazopanibe, respectivamente. A descontinuação do tratamento ocorreu diante de progressão da doença ou morte em 64,2% dos pacientes tratados com sunitinibe e em 54,8% dos pacientes em uso de pazopanibe. Os eventos adversos foram responsáveis pela interrupção do tratamento em 28,4% dos pacientes no grupo de sunitinibe e em 22,1% no grupo de pazopanibe.
A sobrevida global foi de 32,9 meses, 15,9 meses e 8,1 meses para indivíduos de baixo risco, risco intermediário e alto risco, respectivamente (razão de risco, 1,72; IC 95%, 1,13 a 2,26; P <.001), de acordo com as categorias de risco do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center.
O estudo conclui que o uso de inibidores de TKI como tratamento de primeira linha do CCR metastático é eficaz e viável na saúde pública brasileira. No entanto, o estudo do ICESP observa que a mediana de sobrevida global na nossa população foi consideravelmente menor em comparação com os estudos prospectivos que avaliaram os mesmos medicamentos. “Diversos estudos mostraram que até 60% dos pacientes da vida real seriam inelegíveis para ensaios clínicos. Em nossa coorte, 45,5% dos pacientes não seriam elegíveis para ensaios clínicos por múltiplos fatores, como baixo KPS, metástase de SNC, Hb <9 g / dL e condições cardiovasculares prévias nos últimos 12 meses (como infarto do miocárdio, angina instável, insuficiência cardíaca congestiva de classe III ou IV e embolia pulmonar)”, esclarecem os autores. No estudo brasileiro, a sobrevida em pacientes que seriam elegíveis foi de 17,7 meses em comparação com os pacientes que seriam excluídos (11,4 meses).
Para os autores, isso demonstra que critérios mais rigorosos podem ser seguidos para oferecer terapia sistêmica para pacientes com prognóstico ruim. “Talvez o melhor tratamento de suporte seja mais apropriado para alguns desses pacientes”, concluem.
Os dados assumem relevância no contexto atual, quando o Sistema Único de Saúde discute em Consulta Pública até 29 de outubro a incorporação de pazopanibe ou sunitinibe no SUS.
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