O cirurgião Rafael De Cicco (foto), chefe do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto de Câncer Doutor Arnaldo Vieira de Carvalho, é primeiro autor de estudo retrospectivo com 215 pacientes de câncer de orofaringe HPV-positivo. Os resultados foram publicados na Head and Neck e mostram que o tabagismo foi o único fator prognóstico independente para sobrevida livre de doença na população estudada.
Intitulado “Análise do padrão de recorrência do carcinoma de células escamosas de orofaringe relacionadas ao Papiloma Vírus Humano”, o estudo foi objeto da tese de doutorado de Rafael no A. C. Camargo Cancer Center, apresentada 14 de fevereiro.
“Identificamos que o status do HPV esteve associado a maiores taxas de sobrevida, no entanto, o tabagismo foi considerado o único fator prognóstico independente para sobrevida livre de doença na amostra estudada. Além disso, foi evidenciado que pacientes com carcinoma de células escamosas de orofaringe relacionado ao HPV apresentaram doença a distância em locais não comumente observados nos pacientes com tumores HPV-negativos, tais como ossos, fígado e sistema nervoso central”, explica ele.
No presente estudo foram avaliados retrospectivamente 215 pacientes com diagnóstico de CEC classificados como estádio I a IV (sem metástases à distância) através da classificação da American Joint Committee on Cancer (AJCC), tratados no AC Camargo Cancer Center com intenção curativa por meio de cirurgia inicial ou radioterapia, com ou sem quimioterapia associada.
Os dados coletados incluíram informações demográficas, status do HPV, consumo de tabaco e álcool, além de variáveis anatomopatológicas e de tratamento. Os padrões de recorrência foram analisados conforme o status do HPV. A sobrevida livre de doença e a sobrevida livre de recorrência foram calculadas usando curvas de Kaplan-Meier seguindo-se da análise multivariada de Cox.
Resultados
Os resultados mostram que 127 (59,1%) pacientes foram diagnosticados com carcinoma de células escamosas relacionadas ao HPV, com idade média de 56 anos. A tonsila foi o sítio mais acometido (n=131), tanto nos pacientes com tumores HPV positivos (n = 78, 59,5%) quanto naqueles HPV negativos (n = 53, 40,5%). De acordo com a oitava edição da AJCC, 34 (15,8%), 71 (33%), 47 (21,9%) e 60 (27,9%) pacientes apresentavam doença em estádio I, II, III e IV, respectivamente.
A cirurgia foi inicialmente realizada em 109 (50,7%) casos, e os esquemas de radioterapia concomitante à quimioterapia foram oferecidos para 104 pacientes (48,4%, p = 0,686) como tratamento inicial.
No geral, a sobrevida livre de doença em cinco anos foi de 73,5% para pacientes com tumores HPV-positivos e de 68,1% para aqueles com tumores HPV-negativos, diferença que não foi estatisticamente significativa (p = 0,227). O status do tabaco foi considerado o único fator prognóstico independente para a sobrevivência. Além disso, o status do HPV não foi associado a diferenças nas taxas de recorrência (p = 0,680).
O padrão de disseminação metastática também variou de acordo com o status de HPV. Enquanto todos os casos de metástases a distância nos pacientes HPV-negativos ocorriam nos pulmões, nos HPV-positivos foram observados locais incomuns de doença à distância, como fígado, ossos, pele e sistema nervoso central.
O artigo resultante da tese foi publicado na revista Head and Neck e pode ser acessado no link: 10.1002/hed.25985.
Referência: De Cicco R, de Melo Menezes R, Nicolau UR, Pinto CAL, Villa LL, Kowalski LP. Impact of human papillomavirus status on survival and recurrence in a geographic region with a low prevalence of HPV-related cancer: a retrospective cohort study. Head Neck. 2020 Jan; 42(1):93-102. doi: 10.1002/hed.25985. PMID: 31633252