Onconews - Incidência e mortalidade por câncer de próstata em Sergipe

carlos anselmo lima bxCarlos Anselmo Lima (foto), coordenador do Registro de Câncer de Base Populacional de Aracaju, é primeiro autor de estudo publicado no periódico PLoS ONE que examinou a incidência e as taxas de mortalidade do câncer de próstata invasivo ao longo do tempo no estado de Sergipe.

“A pesquisa vem preencher uma lacuna existente no entendimento da epidemiologia do câncer de próstata na literatura nacional, a partir da análise de uma única população de estudo como exemplo, mas que pode ser repetido em outras regiões para o confronto dos resultados”, afirma Lima.

Após a implementação do teste do antígeno prostático específico (PSA), vários estudos descreveram taxas crescentes em todo o mundo, mas é possível que lesões indolentes estejam sendo detectadas devido à falta de alterações nos dados de mortalidade.

O governo brasileiro não recomenda o rastreamento de PSA na população masculina, independentemente da idade, mas relatório emitido pela Urology Society indica o rastreamento a partir dos 50 anos para alguns homens, e para aqueles com idade ≥75 anos com expectativa de vida superior a 10 anos.

O estudo utilizou os bancos de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade e do Registro de Câncer de Aracaju ​​para calcular as taxas padronizadas por idade para todos os tumores de próstata (International Classification of Diseases 10th edition: C61 and D07.5) nas seguintes faixas etárias: 20–44, 45–54 e ≥65 anos.

Foram recuperados 3.595 casos de câncer e 30 lesões glandulares intraepiteliais de alto grau (sem CaP) do Registro de Câncer (RC) de Aracaju para o período de 1996-2015. A partir do Atlas de Mortalidade do Sistema de Informação de Mortalidade online, 1218 mortes foram identificadas para o período de 1980-2018 para a área do RC de Aracaju, e 3.269 mortes foram registradas para a área do estado.

Utilizando o Programa de Regressão Joinpoint, os pesquisadores descobriram que a incidência de câncer de próstata aumentou dramaticamente ao longo do tempo até meados dos anos 2000 para todas as faixas etárias, e diminuiu após esse período.

A análise das tendências da incidência de câncer de próstata no período especificado revelou um crescimento acentuado até 2007, incluindo mudança de percentual anual (APC) de 31,6 (95% CI = 4,8-65,3) entre 1996-1999 e 5,4 (95% CI = 1,4–9,5) entre 1999–2017. Após esse período, notou-se uma tendência decrescente com uma mudança de percentual anual de −5,6 (95% CI = −8,2 a −3,0) para todas as idades. O padrão foi semelhante para o grupo de 45-64 anos, no qual a incidência aumentou até 2008 antes de diminuir, e para pacientes com idade ≥65 anos, que tiveram taxas crescentes até 2006 antes de uma tendência de queda subsequente.

Ao avaliar as mortes por câncer de próstata na população do Registro de Câncer de Aracaju, notou-se uma tendência de aumento (variação percentual anual média (AAPC) = 1,2; 95% CI = 0,5–1,8), principalmente pelo aumento no grupo de idosos (AAPC = 1,9; 95% CI = 1,1–2,6).

Para mortes em todo o estado, a taxa tendeu a aumentar até 2001 (APC = 4,8; 95% CI = 2,8–6,9), seguida por uma mudança não significativa entre 2001 e 2005 (APC = 22,0; IC de 95% = −0,4–49,5) e estabilização posterior.

Segundo os autores, os resultados sugerem que as tendências observadas nas taxas de incidência de câncer de próstata na população do estudo podem ser resultado de mudanças nas recomendações de triagem. “Em relação ao aumento das taxas de mortalidade, acreditamos que esses achados sejam atribuíveis à idade e à melhora na certificação da causa do óbito, evidenciada pela redução das taxas de óbito por causas não definidas”, afirmam.

O artigo esclarece que com base no estabelecimento de estatísticas vitais, na idade tardia no diagnóstico e no curso indolente da doença, é possível inferir que muitos indivíduos morreram de outras causas além do câncer de próstata. ““O câncer de próstata ocorre em homens de idade mais avançada, o que influencia na ocorrência de mortalidade bem mais tardiamente do que o pico de idade média de incidência. Assim, um fator de confusão é a mortalidade por outras causas, em que podemos questionar se os óbitos ocorreram por ou com câncer de próstata. Para isso, estudos de sobrevida líquida serão necessários para a diferenciação”, explica Lima. “Pesquisas adicionais podem ser necessárias, por exemplo, para investigar se o tratamento radical em pacientes com câncer de próstata agressivo reduziria as taxas de mortalidade ou se algum agente causador explicaria as altas taxas de incidência na população do estudo”, acrescenta.

Com base nesses achados, os autores não recomendam a implementação de políticas sistemáticas de rastreamento de câncer de próstata para gestores de políticas de saúde. “É inegável que o câncer de próstata é uma grande preocupação para a saúde pública, impondo uma grande carga aos serviços de oncologia, com grande repercussão na sociedade. Assim, cabe encontrar formas de mitigar esse impacto, sobretudo com mais conscientização da população, inclusive sobre a indolência de muitos tumores, e talvez não com formas de rastreamento mais agressivas. Campanhas para ampliar o conhecimento público e a participação dos urologistas para escolher com cada indivíduo a melhor conduta são absolutamente necessárias”, conclui Lima.

O estudo recebeu financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - FAPITEC / SE.

Referência: Lima CA, da Silva BEB, Hora EC, Lima MS, Brito EdAC, Santos MdO, et al. (2021) Trends in prostate cancer incidence and mortality to monitor control policies in a northeastern Brazilian state. PLoS ONE 16(3): e0249009. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0249009