Consenso multidisciplinar forneceu recomendações para a implementação de testes genéticos no câncer de próstata metastático, com orientações adaptadas à era da oncologia de precisão. O conjunto de recomendações foi publicado por Giri et al. no Journal of Clinical Oncology. Rodrigo Guindalini (foto), oncologista e oncogeneticista da Oncologia D’Or, comenta o trabalho.
De acordo com o painel, que reflete a posição da Philadelphia Prostate Cancer Consensus Conference 2019, o teste de linhagem germinativa é uma ferramenta fundamental no tratamento, gerenciamento e avaliação de risco do câncer de próstata. “As necessidades críticas desenvolvidas pelo consenso incluem estratégias otimizadas de incorporação de painéis multigenêticos capazes de acompanhar o crescente conhecimento sobre dados genéticos da doença, gerar consistência nas indicações dos testes genéticos e manejo adequado sobre seus resultados, assim como avaliar modelos alternativos de aconselhamento genético para atender à crescente demanda destes serviços”, argumentam os autores.
A recomendação usou o modelo Delphi modificado, com critérios de concordância forte (>75%) ou moderada (de 50% a 74%).
De acordo com o Consenso, grandes painéis para testar mutações germinativas ou somáticas são recomendados para pacientes com câncer de próstata metastático. O teste germinativo é recomendado na doença metastática ou em casos com história familiar sugestiva de câncer de próstata hereditário. “Homens com câncer de próstata não-metastático com um dos seguintes critérios também devem ser considerados para teste genético: doença avançada (T3a ou superior), patologia intraductal/ductal e Gleason soma 8 ou acima”, reforça Guindalini.
Os genes prioritários que devem ser testados para manejo da doença metastática são os genes BRCA2, BRCA1 e os genes relacionados à síndrome de Lynch (genes de reparo do DNA). Deve-se considerar testes mais amplos, incluindo o gene ATM, para elegibilidade para ensaios clínicos. “Essas recomendações podem ser revisadas a depender dos critérios que serão utilizados pelas agencias reguladoras para aprovação do uso de inibidores de PARP no tratamento da doença metastática”, acrescenta o especialista. Além disso, recomenda-se que a identificação de mutação no gene BRCA2 deve ser utilizada para discussões sobre vigilância ativa.
O rastreamento a partir dos 40 anos ou 10 anos antes do diagnóstico do caso mais jovem de câncer de próstata em uma família é recomendado para portadores de mutação no gene BRCA2, e deve ser considerado nos portadores de mutações nos genes de reparo do DNA, HOXB13, BRCA1 e ATM.
Modelos alternativos de aconselhamento genético estimulando a colaboração entre os oncologistas, urologistas e serviços de oncogenética foram endossados para se adequar à escassez de serviços de aconselhamento genético. Para isso, a estrutura de avaliação genética idealmente deve incluir o consentimento informado pré-teste, discussão pós-teste, teste em cascata e abordagens baseadas em tecnologia. Foi reforçada também a necessidade de pesquisa e educação médica continuada.
“Este consenso traz orientações importantes para o manejo dos pacientes com alto risco para desenvolvimento ou diagnóstico de câncer de próstata. Essas recomendações devem ser amplamente divulgadas entre os profissionais especializados em uro-oncologia no Brasil. Nossas sociedades também deveriam debater estratégias para facilitar a implementação do aconselhamento genético no cuidado dos pacientes com câncer de próstata”, conclui Guindalini.
Referência: Implementation of Germline Testing for Prostate Cancer: Philadelphia Prostate Cancer Consensus Conference 2019 – Veda N. Giri et al - DOI: 10.1200/JCO.20.00046 Journal of Clinical Oncology - Published online June 09, 2020.