Onconews - Testes genômicos no Brasil: desafios e oportunidades

Os brasileiros Guilherme Harada (foto), Tiago Castria e Fabio Ynoe de Moraes assinam editorial do JCO Global Oncology. A análise ilustra os desafios da oncologia de precisão no cenário brasileiro e defende esforços coordenados para melhorar o tratamento de cânceres com alta carga global, principalmente o câncer de pulmão de células não pequenas, principal causa de mortalidade relacionada ao câncer em todo o mundo.

Harada et al. lembram que o tratamento do câncer de pulmão passou por mudanças significativas nos últimos anos, refletindo principalmente os avanços nos testes moleculares para identificar alterações potencialmente acionáveis. “Mais de 60% dos pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas avançado abrigam um alvo molecular potencialmente acionável, ressaltando a importância dos testes moleculares para melhorar a qualidade de vida e a sobrevida global desses pacientes”, destacam os autores.

Na era da oncologia de precisão, o editorial sublinha que a pesquisa focada na avaliação de perfis moleculares e na otimização dos testes moleculares em câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) avançado é cada vez mais indispensável, principalmente em países de baixa e média renda, onde a diversidade genética e os fatores ambientais podem moldar um cenário molecular único.

Nesse contexto, a análise ilustra os desafios de países com dimensão continental, como o Brasil, para representar de forma abrangente toda a população, ainda mais considerando as disparidades e o acesso desigual à tecnologia. Diante da carência de dados moleculares em larga escala no Brasil e da necessidade de otimizar estratégias custo-efetivas para identificar alterações moleculares em pacientes com CPNPC metastático, Harada e colegas dão relevo ao estudo retrospectivo de Dienstmann et al.

Como um dos estudos mais representativos da realidade brasileira, o estudo de Rodrigo Dienstmann e colegas inclui 1.272 amostras de 15 estados brasileiros e mais de 130 clínicas, com  resultados demonstrando que parcela importante de pacientes (35%)  com CPCNP não tinha material suficiente para sequenciamento amplo de próxima geração (NGS).

“Esses achados destacam a necessidade de coleta e preparação adequadas de amostras para análise molecular”, prosseguem os autores, argumentando que expandir o acesso a tecnologias avançadas de tratamento do câncer requer uma abordagem robusta que integre treinamento, investimento, parcerias e iniciativas de pesquisa direcionadas em todo o espectro de tratamento do câncer.

A íntegra do editorial de Harada e colegas está em acesso aberto no JCO Global Oncology.

Referência:

Guilherme Harada et al., Genomic Testing in Brazil: Navigating Challenges and Harnessing Opportunities for Global Health Impact. JCO Glob Oncol 11, e2400545(2025). DOI:10.1200/GO-24-00545