Onconews - Toxicidades cardiovasculares associadas a inibidores de checkpoint imunológico

CHIATTONE NET OKPesquisadores do Centro Médico da Universidade Vanderbilt (VUMC), em Nashville, Tennessee, buscaram identificar e caracterizar os eventos adversos cardiovasculares significativamente associados ao tratamento com inibidores de checkpoint imunológico. Os resultados do estudo publicado no Lancet Oncology mostraram que as complicações cardíacas e vasculares incluem miocardite, pericardite, vasculite e arritmias, e que elas ocorrem no início do tratamento. O hematologista Carlos Chiattone (foto), coordenador do Centro de Linfomas do Núcleo de Oncologia do Hospital Samaritano e professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, comenta os resultados do trabalho.

Os inibidores de checkpoint imunológico (ICIs) melhoraram substancialmente os desfechos clínicos em múltiplos tipos de câncer e estão sendo cada vez mais utilizados em cenários iniciais de doença e em combinações de diferentes imunoterapias. No entanto, os ICIs também podem causar eventos adversos graves ou fatais relacionados ao sistema imune (irAEs). “Além do grande avanço no prognóstico destas doenças, passamos a nos deparar com novas modalidades de eventos adversos, diferentes dos que conhecíamos com a quimioterapia convencional. São exemplos a fibrilação atrial e os sangramentos observados nos inibidores da tirosina quinase de Bruton, e a síndrome de lise tumoral ocasionada pelo inibidor da proteína BCL-2”, observa Chiattone.

Os pesquisadores utilizaram o VigiBase, um banco de dados global de eventos adversos de medicamentos mantido pela Organização Mundial de Saúde, para comparar os eventos adversos cardiovasculares em pacientes que receberam inibidores de checkpoint (subgrupo ICI) com o relatado no banco de dados completo.

Resultados

Foram identificados 31.321 eventos adversos em pacientes que receberam imunoterapia e 16.343.451 eventos adversos relatados em pacientes tratados com qualquer droga (banco de dados completo). Em comparação com o banco de dados completo, o tratamento com inibidores de checkpoint foi associado a maior incidência de miocardite (5515 eventos para o banco de dados completo vs 122 para ICIs, ROR 11·21 [95% CI 9·36 - 13·43]; IC 025 3·20); doenças pericárdicas (12 800 vs 95, 3·80 [3·08 - 4·62]; IC 025 1·63); e vasculite (33.289 vs 82, 1·56 [1·25 - 1·94]; IC 025 0·03), incluindo arterite temporal (696 vs 18, 12·99 [8·12 - 20·77]; IC 025 2·59) e polimialgia reumática (1709 vs 16, 5·13 [3·13 - 8·40], IC 025 1·33).

As doenças pericárdicas foram notificadas mais frequentemente em doentes com câncer de pulmão (49 [56%] de 87 doentes), enquanto a miocardite (42 [41%] de 103 doentes) e vasculite (42 [60%] de 70 doentes) foram mais frequentemente notificadas em pacientes com melanoma (teste χ2 para comparação geral entre subgrupos, p<0,0001).

A visão foi prejudicada em cinco (28%) de 18 pacientes com arterite temporal. Na maioria dos casos os eventos adversos cardiovasculares imuno-relacionados foram graves (> 80%), com morte em 61 (50%) dos 122 casos de miocardite, 20 (21%) dos 95 casos de doença pericárdia e cinco (6%) dos 82 casos de vasculite (teste χ2 para comparação global entre doenças pericárdicas, miocardite e vasculite, p<0·0001). Fatalidades com miocardite ocorreram mais frequentemente com a terapia combinada (65,6%) do que a monoterapia (44,4%).

Os autores concluíram que o tratamento com inibidores de checkpoint pode levar a eventos adversos cardiovasculares inflamatórias graves e incapacitantes logo após o início da terapia. “Além de miocardite com risco de vida, essas toxicidades incluem doenças pericárdicas e arterite temporal com risco de cegueira. Esses eventos devem ser considerados no atendimento ao paciente e em desenhos de estudos clínicos combinados (isto é, combinações de diferentes imunoterapias, bem como imunoterapias e quimioterapia)”, observaram.

O trabalho foi financiado pelo Cancer Institut Thematique Multi-Organisme of the French National Alliance for Life and Health Sciences (AVIESAN) Plan Cancer 2014-2019; o US National Cancer Institute, National Institutes of Health; James C. Bradford Jr. Melanoma Fund e Melanoma Research Foundation.

Referência: Cardiovascular toxicities associated with immune checkpoint inhibitors: an observational, retrospective, pharmacovigilance study - Joe-Elie Salem, MD, Ali Manouchehri, MD, Melissa Moey, MD, Bénédicte Lebrun-Vignes, MD, Lisa Bastarache, BS, Prof Antoine Pariente, MD et al. - Published:November 12, 2018DOI:https://doi.org/10.1016/S1470-2045(18)30608-9