Estudo inédito que comparou a prevalência de câncer em transexuais e cisgêneros nos Estados Unidos mostra que o número de diagnósticos de câncer foi mais que o dobro em homens trans na comparação com homens cis. Os dados foram reportados por Boehmer et al., na Cancer.
Nesta análise, os autores usaram dados do Sistema de Vigilância de Fatores Comportamentais de 2014 a 2018 e identificaram 95,8 mil indivíduos cisgêneros (CIS) e transgêneros (TRANS) que haviam recebido diagnóstico de câncer. Usando regressão logística, o estudo estimou a prevalência de câncer entre transgêneros e cisgêneros.
Após o ajuste para fatores de confusão, os resultados da análise mostram que em homens trans o diagnóstico de câncer foi > 2 vezes superior na comparação com homens cisgêneros. As taxas de comorbidades também foram mais altas. “Um resultado importante deste estudo refere-se a achados de taxas significativamente mais altas de diabetes e doenças cardiovasculares em sobreviventes transgêneros”, destacam os autores.
Sobreviventes trans apresentaram mais episódios de depressão, assim como uma probabilidade significativamente maior de relatar problemas de saúde física e abuso de álcool na comparação com homens e mulheres cis. Entre os sobreviventes de câncer, os homens trans foram menos propensos a fumar, mas tiveram mais comorbidades, com risco nove vezes maior de diabetes e doenças cardíacas do que as mulheres cisgêneros, risco sete vezes maior de diabetes na comparação com homens cis e risco quatro vezes maior de doenças cardiovasculares na comparação com homens cisgêneros.
As mulheres sobreviventes trans tiveram probabilidade significativamente maior de diabetes na comparação com homens e mulheres cis e foram mais propensas a doenças cardiovasculares do que as mulheres cis.
“Os médicos devem estar cientes da maior prevalência de câncer entre homens trans e considerar que existe grande variação no perfil de risco dessa população. Médicos e serviços de saúde devem abordar as complexas comorbidades de homens e mulheres trans”, conclui o estudo.
Os autores estimam que dos quase 17 milhões de sobreviventes de câncer nos Estados Unidos em 2019, 62.530 são transgêneros. "Esperamos que essas descobertas sejam um alerta de que sobreviventes de câncer transgêneros têm necessidades médicas complexas", disse o principal autor do estudo, Ulrike Boehmer, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston.
Referência: Boehmer, U., Gereige, J., Winter, M., Ozonoff, A., & Scout, N. (2020). Transgender individuals’ cancer survivorship: Results of a cross‐sectional study. Cancer. doi:10.1002/cncr.32784