Onconews - Triagem complementar com mamografia com contraste em mulheres com alto risco de câncer de mama

Estudo de Bhavika K. Patel e colegas publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO) em julho passado, avaliou prospectivamente a eficácia da triagem complementar de mamografia com contraste (MCC) em mulheres com risco elevado de câncer de mama. “A mamografia com contraste e a ressonância magnética (RM) tem desempenho diagnóstico semelhante na detecção de câncer de mama, mas existem dados limitados da MCC na triagem de câncer de mama de alto risco”, afirmam os autores. A mastologista Simone Elias (foto) analisa os resultados.

Esse estudo observacional prospectivo, de única instituição, foi conduzido em mulheres assintomáticas com risco elevado para câncer de mama com 35 anos ou mais que realizaram uma mamografia digital com tomossíntese negativa e nenhuma exame complementar adicional nos 12 meses anteriores.

Entre fevereiro de 2019 e abril de 2021, foram inscritas 460 mulheres. A idade média foi de 56,8 (variação de 35,0 a 79,2) anos e 408 de 460 (88,7%) tinham padrão mamográfico denso. A biopsia revelou alterações benignas em 22 mulheres (22/37, 59%), lesões de alto risco em quatro mulheres (4/37, 11%) e câncer de mama em 11 mulheres (11/37, 30%).

Quatorze cânceres (10 invasivos, variação de tamanho do tumor de 4 a 15 mm, mediana de 9 mm) foram diagnosticados em 11 mulheres. A taxa geral de detecção complementar de câncer foi de 23,9 por 1.000 pacientes, IC de 95% (12,0 a 42,4). Todos os cânceres eram de grau 1 ou 2, ER+ HER– e linfonodos negativos.

O rastreamento com mamografia com contraste ofereceu alta especificidade (0,875 [IC de 95%, 0,844 a 0,906]), alto valor preditivo negativo (VPN) (0,998 [IC de 95%, 0,993 a 1,000), valor preditivo positivo (VPP1) moderado (0,164 [IC de 95%, 0,076 a 0,253), VPP3 moderado (0,275 [IC de 95%, 0,137 a 0,413]) e alta sensibilidade (0,917 [IC de 95%, 0,760 a 1,000]).

Pelo menos um ano de acompanhamento por imagem estava disponível em todos os pacientes, e um câncer de intervalo foi detectado na ressonância magnética da mama 4 meses após a triagem negativa com mamografia com contraste.

Em síntese, o estudo piloto demonstrou uma taxa de detecção complementar de câncer de 23,9 por 1.000 em mulheres com risco elevado de câncer de mama. “São necessários ensaios clínicos maiores, multi-institucionais e multianuais de mamografia com contraste em pacientes com risco elevado para validação”, concluíram os autores.

O estudo em contexto

Por Simone Elias, mastologista, pós-doutora em Radiologia Clínica e professora orientadora do Programa de Pós-graduação da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

O estudo de Bhavika K. Patel e colaboradores, publicado no Journal of Clinical Oncology, oferece uma análise relevante sobre a eficácia da mamografia com contraste (MCC) como uma ferramenta de triagem complementar em mulheres com alto risco de câncer de mama. A pesquisa destaca a MCC como uma alternativa promissora à ressonância magnética (RM), devido ao seu desempenho diagnóstico semelhante, especialmente em mulheres com padrão mamográfico denso, característica presente em 88,7% das participantes do estudo. A taxa de detecção de 23,9 por 1.000 mulheres e a alta sensibilidade (91,7%) são resultados notáveis, sugerindo que a MCC pode identificar tumores pequenos, invasivos e ainda em estágios iniciais (grau 1 ou 2), o que é essencial para o prognóstico e a definição do tratamento.

Contudo, a pesquisa também apresenta limitações importantes, incluindo seu caráter observacional, o tamanho limitado da amostra e a realização em uma única instituição. A descoberta de um câncer de intervalo apenas quatro meses após uma triagem negativa com MCC evidencia que a técnica, embora sensível, pode não substituir completamente a RM em casos específicos. O estudo aponta a necessidade de ensaios clínicos maiores, multi-institucionais e de longa duração para validar a MCC como uma alternativa viável e segura na triagem de mulheres com alto risco de câncer de mama. A investigação de Patel et al. contribui significativamente para a compreensão do papel da MCC, mas deixa claro que mais evidências são necessárias para estabelecer seu lugar definitivo nas diretrizes clínicas.

Referência: 

Bhavika K. Patel et al., Prospective Study of Supplemental Screening With Contrast-Enhanced Mammography in Women With Elevated Risk of Breast Cancer: Results of the Prevalence Round. JCO 0, JCO.22.02819. DOI:10.1200/JCO.22.02819