O conjugado anticorpo-droga trastuzumabe deruxtecana mostrou alta taxa de resposta intracraniana em pacientes com metástases cerebrais ativas de câncer de mama HER2-positivo e deve ser considerado como opção de tratamento nesse cenário. É o que apontam os resultados do estudo TUXEDO-1, reportado 8 de agosto na Nature. "Os resultados apresentados no estudo confirmam o alto efeito terapêutico do T-DXd no sistema nervoso central, com taxa de resposta de 73%", destaca o oncologista Fabio Franke (foto), diretor do Oncosite – Centro de Pesquisa Clínica em Oncologia.
As maiores incidências de metástases cerebrais são relatadas em pacientes com câncer de mama triplo negativo e doença HER2-positiva. Bartsch et al. descrevem que a incidência de metástases cerebrais vem aumentando nas últimas duas décadas, atribuídas à melhora da SG devido ao progresso nas opções de tratamento sistêmico e a uma mudança hipotética para um fenótipo mais agressivo em pacientes recorrentes após tratamento adjuvante primário. Opções como a radioterapia do crânio total (WBRT), radioterapia estereotáxica, radiocirurgia e neurocirurgia têm sido a base do tratamento de metástases cerebrais, mas o prognóstico dos pacientes permanece ruim. Nesse contexto, o tratamento sistêmico tornou-se uma abordagem alternativa atraente ao WBRT quando a radioterapia estereotáxica ou a radiocirurgia não são possíveis ou indicadas, visando a prevenção do declínio neurocognitivo associado ao WBRT.
Neste estudo prospectivo de Fase II foram inscritos pacientes com idade ≥18 anos com câncer de mama HER2-positivo e metástases cerebrais recém-diagnosticadas ou que progrediram após terapia local anterior ou exposição prévia a trastuzumabe e pertuzumabe, sem indicação para terapia local imediata.
Os pacientes elegíveis receberam trastuzumabe deruxtecana por via intravenosa na dose padrão de 5,4 mg por kg de peso corporal uma vez a cada 3 semanas. O endpoint primário foi a taxa de resposta intracraniana, de acordo com a avaliação da resposta nos critérios de metástases cerebrais de neuro-oncologia.
Os autores descrevem que 15 pacientes foram incluídos na população com intenção de tratar e receberam pelo menos uma dose do medicamento do estudo. Dois pacientes (13,3%) tiveram resposta intracraniana completa, nove (60%) alcançaram resposta intracraniana parcial e três (20%) tiveram doença estável, com taxa de resposta global de 73,3% (95% intervalo confidencial 48,1–89,1%), atendendo assim ao endpoint primário.
Em relação ao perfil de segurança, não foram observados novos sinais de toxicidade e tanto a qualidade de vida global quanto o funcionamento cognitivo foram mantidos ao longo do tratamento.
Em síntese, o conjugado anticorpo-droga trastuzumabe deruxtecana produziu respostas em 11 de 15 pacientes, com taxa de resposta por revisão central de 73,3% na população com intenção de tratar (ITT). A sobrevida livre de progressão (SLP) mediana foi de 14 meses e a sobrevida global (SG) não foi alcançada em um seguimento mediano de 12 meses.
"Apesar de ser um estudo Fase II, trastuzumabe deruxtecana passa a ser considerado como importante opção nesse cenário. O resultado se torna ainda mais importante porque geralmente essa população não é incluída em estudos clínicos . Aguardamos com ansiedade também o amadurecimento dos dados de sobrevida global, já que a SLP mediana foi de 14 meses", conclui Franke.
Os resultados do estudo TUXEDO-1 (NCT04752059, EudraCT 2020-000981-41) foram inicialmente apresentados no ESMO Breast Cancer Congress 2022.
Referência: Bartsch, R., Berghoff, A.S., Furtner, J. et al. Trastuzumab deruxtecan in HER2-positive breast cancer with brain metastases: a single-arm, phase 2 trial. Nat Med (2022). https://doi.org/10.1038/s41591-022-01935-8