Onconews - Vacinas terapêuticas para pacientes com NIC de alto grau associada ao HPV

Luís Carlos Lopes-Júnior (foto), líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Oncologia (GEPONC), da Universidade Federal do Espírito Santo, é autor sênior de revisão sistemática publicada na Cancers que buscou sintetizar e avaliar criticamente as evidências de ensaios clínicos sobre a segurança, eficácia e imunogenicidade de vacinas terapêuticas no tratamento de pacientes com neoplasia intraepitelial cervical (NIC) de alto grau associada ao HPV.

“Apesar do conhecimento de que o HPV é responsável pela NIC de alto grau e pelo câncer cervical, pouco se sabe sobre o uso de vacinas terapêuticas como tratamento”, afirmaram os autores.

Os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática de ensaios clínicos que aderiram à declaração PRISMA 2020 no MEDLINE/PubMed, Embase, CENTRAL Cochrane, Web of Science, Scopus e LILACS, sem restrições de dados ou de idioma.

Os endpoints primários relacionados à segurança, eficácia e imunogenicidade dessas vacinas foram avaliados pela revisão dos efeitos adversos/tóxicos associados à administração da vacina terapêutica via regressão histopatológica da lesão e/ou regressão do tamanho da lesão e via clearance viral, além da resposta imunológica dos indivíduos que receberam tratamento em comparação com aqueles que não receberam, antes e depois de receberem a vacina, respectivamente.

Foram identificados 1.184 estudos e 16 ensaios (ECR e NRCT) realizados em oito países e três continentes, incluindo 672 pacientes com NIC de alto grau associada ao HPV preencheram todos os critérios. No geral, as vacinas terapêuticas eram heterogêneas quanto à formulação, dose, protocolo de intervenção e vias de administração, inviabilizando uma meta-análise.

Os autores relataram resultados promissores para as variáveis relacionadas à eficácia e imunogenicidade, tanto na ativação de células T e desenvolvimento de anticorpos específicos para HPV quanto em resultados significativos relacionados à regressão da lesão, depuração viral e/ou regressão da lesão histopatológica.

“Esses achados devem ser interpretados com cautela porque ainda não podem ser considerados conclusivos”, observam os autores, ressaltando que a maioria dos estudos teve um tamanho de amostra pequeno, baixa qualidade metodológica (a maioria dos estudos eram ensaios clínicos não randomizados e/ou ensaios clínicos randomizados de fase 1 ou 2) e período de acompanhamento relativamente curto.

“Há necessidade de futuros ensaios clínicos randomizados de Fase 3 em grande escala e bem desenhados, com alta qualidade metodológica, com período de acompanhamento superior a 1 ano e com estratégias para controlar variáveis de confusão que possam interferir nos endpoints. Além disso, estudos futuros devem focar em abordagens pouco exploradas, mas que produziram resultados favoráveis em relação às demais neoplasias associadas ao HPV, como por exemplo, outras vias de administração, como a administração no local da lesão, e a inclusão de outros tipos de HPV de alto grau para compreender melhor os mecanismos de escape viral e o desenvolvimento de respostas imunológicas associadas à eficácia clínica”, concluíram os pesquisadores.

Além de Lopes-Júnior, o estudo tem participação dos pesquisadores Caroline Amélia Gonçalves, Gabriela Pereira-da-Silva e Renata Cristina Campos Pereira Silveira, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP); Paulo César Morales Mayer, da Universidade CEUMA; e Adriana Zilly, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, em Cascavel.

Referência: Gonçalves, C.A.; Pereira-da-Silva, G.; Silveira, R.C.C.P.; Mayer, P.C.M.; Zilly, A.; Lopes-Júnior, L.C. Safety, Efficacy, and Immunogenicity of Therapeutic Vaccines for Patients with High-Grade Cervical Intraepithelial Neoplasia (CIN 2/3) Associated with Human Papillomavirus: A Systematic Review. Cancers 2024, 16, 672. https://doi.org/10.3390/cancers16030672