Em pacientes idosos, as comorbidades podem competir com o câncer pelo risco de mortalidade. Benderra et al. avaliaram o valor prognóstico das comorbidades em idosos com câncer, em estudo que mostrou que o tipo, o número e a gravidade das comorbidades foram independentemente associados a menor sobrevida global. Pacientes com câncer idosos com escore elevado de comorbidades (CIRS-G >17) tiveram redução de 6 a 9 meses na sobrevida global em 3 anos, dependendo do tipo de tumor. O oncologista Auro del Giglio (foto), titular de Hematologia e Oncologia da Faculdade de Medicina do ABC, analisa os principais achados.
Neste estudo, os pesquisadores consideraram todos os pacientes com mais de 70 anos de idade com câncer colorretal, de mama, próstata ou pulmão incluídos em uma coorte prospectiva (ELCAPA). O escore Cumulative Illness Rating Scale-Geriatrics (CIRS-G) foi utilizado para avaliar comorbidades. O endpoint primário foi a sobrevida global (SG) em 3, 12 e 36 meses. A diferença ajustada no tempo médio de sobrevida restrito (RMST) foi utilizada para avaliar a força da relação entre comorbidades e sobrevida.
Os autores descrevem que dos 1.551 pacientes incluídos (idade mediana de 82 anos; intervalo interquartil de 78-86 anos), 502 (32%), 575 (38%), 283 (18%) e 191 (12%) tinham câncer colorretal, de mama, próstata, e pulmão, respectivamente, e 50% tinham doença metastática. Hipertensão, insuficiência renal e comprometimento cognitivo foram as comorbidades mais comuns (67%, 38% e 29% dos pacientes, respectivamente).
O escore CIRS-G >17, duas ou mais comorbidades graves, mais de sete comorbidades, insuficiência cardíaca e comprometimento cognitivo foram independentemente associados a menor SG. O maior tamanho de efeito foi observado para CIRS-G >17 (versus CIRS-G <11) aos 36 meses, as diferenças ajustadas no RMST (intervalo de confiança de 95%) foram de -6,0 meses (-9,3 a -2,6 meses) para câncer colorretal, -9,1 meses (-13,2 a -4,9 meses) para câncer de mama, -8,3 meses (-12,8 a -3,9 meses) para câncer de próstata e -5,5 meses (-9,9 a -1,1 meses) para câncer de pulmão (P < 0,05 para todos).
“Entre os 1.551 pacientes estudados, as comorbidades mais comuns foram hipertensão, insuficiência renal e comprometimento cognitivo. Além disso, o estudo identificou que o CIRS-G >17, a presença de duas ou mais comorbidades graves, mais de sete comorbidades, insuficiência cardíaca e comprometimento cognitivo foram fatores independentemente associados a uma menor sobrevida global”, explica del Giglio.
O especialista reforça que o estudo realizado por Benderra et al. examinou o impacto das comorbidades em idosos com câncer e revelou que essas condições médicas concomitantes podem ter um efeito significativo na sobrevida desses pacientes. “Os resultados ressaltam a importância de considerar as comorbidades ao tratar idosos com câncer, evidenciando que estes achados têm implicações significativas na prática clínica e devem ser levadas em consideração ao planejar o tratamento de pacientes idosos com câncer “, concluiu del Giglio.
Os autores destacam que pacientes com câncer idosos com escore elevado de comorbidades (CIRS-G >17) tiveram redução de 6 a 9 meses na sobrevida global em 3 anos, dependendo do tipo de tumor.
A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.
Referência: Published:October 11, 2023. DOI: https://doi.org/10.1016/j.esmoop.2023.101831