Onconews - Variantes germinativas com alongamento de telômeros predispõem ao câncer papilar de tireoide

Pesquisadores da Johns Hopkins identificaram que variações específicas em três genes relacionados à manutenção do comprimento dos telômeros – as extremidades protetoras do DNA nos cromossomos – podem explicar até 4,5% dos cânceres papilares da tireoide. Os achados estão no The American Journal of Human Genetics e confirmam pesquisas anteriores da mesma instituição, indicando que telômeros muito longos estão ligados ao desenvolvimento de certos tipos de câncer.

Nesta análise, os pesquisadores analisaram a sequência genética de cinco genes relacionados à manutenção dos telômeros em 200 indivíduos com câncer papilar de tireoide de 189 famílias que se ofereceram para serem incluídas em um registro da Universidade Estadual de Ohio.

Cerca de um quarto dos 200 indivíduos sequenciados tinham câncer da tireoide hereditário ou cânceres secundários a tumores da tireoide ou, ainda, eram homens que desenvolveram câncer  de tireoide em idade precoce. O sequenciamento identificou que nove pessoas de sete famílias (4,5% das 200) tinham variações genéticas em pelo menos um dos três genes (POT1, TINF2 ou ACD) ligados à manutenção dos telômeros.

Entre os indivíduos com essas variantes genéticas, cinco tinham telômeros muito longos – mais longos que 90% da maioria das pessoas – e três tinham telômeros ultralongos – mais longos que 99% da população.

Em outro grupo de 270 indivíduos com câncer papilar da tireoide não incluídas no registo de câncer hereditário, quatro das 270 (1,5%) tinham variantes nesses mesmos três genes.

De 18 indivíduos com variantes em três genes relacionados aos telômeros, 15 (83%) desenvolveram um segundo câncer, mais frequentemente melanoma, sarcoma e câncer de linfócitos, como linfoma e mieloma múltiplo. Os membros da família com as mesmas variantes genéticas também foram propensos a desenvolver câncer papilar de tireoide, bem como outras malignidades.

“Este estudo fornece uma melhor compreensão do que pode predispor algumas pessoas ao câncer papilar de tireoide, incluindo vários indivíduos na mesma família”, diz Mary Armanios, professora de genética, biologia molecular e patologia na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e diretora do Telomere Center da Johns Hopkins. “Agora podemos identificar pessoas que podem se beneficiar de uma monitorização mais próxima dos cânceres secundários comuns nesta população”, acrescenta.

No entanto, a pesquisadora adverte que mais pesquisas são necessárias para entender como interpretar essas variantes e o papel do comprimento dos telômeros para permitir testes genéticos e o aconselhamento a pessoas com tumores papilares e cânceres secundários, e aquelas com histórico familiar de câncer de tireoide.

Esses dados contribuem para ampliar evidências crescentes do papel dos telômeros longos e do alongamento dos telômeros como fatores de risco para o desenvolvimento do câncer.

O câncer de tireoide ocorre em mais de 40.000 pessoas nos EUA a cada ano e é um dos 10 principais tipos de câncer em mulheres no país. A doença em estágio inicial é quase sempre tratável. A maioria (cerca de 80%) desses cânceres são cânceres papilares da tireoide.

Evidências indicam que de  5% a 10% dos casos de câncer papilar da tiroide são hereditários em algumas famílias e que indivíduos com esta doença podem ser propensas a desenvolver outros tipos de câncer.

Referência:

DeBoy EA, Nicosia AM, Liyanarachchi S, Iyer SS, Shah MH, Ringel MD, Brock P, Armanios M. Telomere-lengthening germline variants predispose to a syndromic papillary thyroid cancer subtype. Am J Hum Genet. 2024 Apr 29:S0002-9297(24)00121-6. doi: 10.1016/j.ajhg.2024.04.006. Epub ahead of print. PMID: 38688277.