Um estudo realizado pela Harvard School of Public Health (HSPH) e publicado online no Journal of Clinical Oncology (JCO) sugere que a vasectomia pode estar associada com o aumento do risco de câncer de próstata. No estudo, os pesquisadores descobriram que a associação permaneceu mesmo entre os homens que receberam o exame de PSA normal, o que indica que o aumento do risco de câncer não pode ser explicado pelo viés do diagnóstico.
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum em homens, atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. Para 2014, são esperados 68.800 novos casos da doença, de acordo com levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Os cientistas analisaram dados de 49.405 voluntários, acompanhados durante 24 anos, de 1986 a 2010. Durante esse período, foram diagnosticados 6.023 casos de câncer de próstata, sendo 811 letais. Um em cada quatro participantes havia feito vasectomia. Os resultados mostraram um aumento de 10% do risco de desenvolver câncer de próstata em homens que realizaram o procedimento. O efeito parece ser mais forte entre homens que fizeram vasectomia em uma idade mais jovem. “É um estudo retrospectivo, que não tem um grande nível de evidência. Ele gera uma hipótese. O fato é que foi observado que houve um aumento de 10% nos pacientes vasectomizados, o que considero um número modesto. É necessário que outros estudos corroborem esses dados”, explica Alexandre Chiari, oncologista clínico da Oncomed BH.
Hipóteses
A relação entre a vasectomia e o câncer de próstata já foi objeto de estudos anteriores. No entanto, ainda não existe uma explicação óbvia para esse tipo de fenômeno. Alguns grupos acreditam que a vasectomia pode alterar alguma parte imunológica ou relacionada a hormônios do nosso sistema. “Uma das hipóteses é que pacientes vasectomizados, pela diminuição das proteínas TGFB1 e TGFB3, podem se associar a um aumento da proliferação do tumor. São várias hipóteses, nenhuma delas ainda bem estabelecida”, explica Fernando Maluf, diretor do Serviço de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes.
Apesar de concordar que 10% seja um número modesto, o especialista chama a atenção para o risco de um câncer letal ou de alto risco, que chega a quase 20%. “Entre os homens que fizeram screening, esse aumento do risco chega a 56%. Não é uma coisa banal. Talvez realmente exista algum mecanismo, seja imunológico, seja hormonal, seja alguma alteração relacionada com a biologia do tumor que levam o homem a ter uma chance realmente aumentada de um câncer de próstata mais agressivo”, diz.
Para o especialista, talvez o maior impacto seja em pacientes com alto risco de ter câncer de próstata, como por exemplo pacientes cujo pai, avô ou irmãos tenham a doença. “Essas pessoas devem repensar um pouco mais se farão uma vasectomia. Não é proibitivo, em absoluto. Mas talvez seja bom pensar um pouco melhor”, afirma Maluf, que ressalta que o especialista também deve se atentar à questão e avaliar o histórico familiar do paciente.
Referência: http://jco.ascopubs.org/content/early/2014/07/02/JCO.2013.54.8446.abstract