Os dispositivos eletrônicos para fumar são tema emergente na agenda de saúde pública e acumulam robusto corpo de evidências indicando que possuem potencial viciante e causam danos à saúde semelhantes ao cigarro convencional. É o que descreve relatório do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), em mapeamento realizado nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal entre 2006 e 2023.
O Vigitel compõe o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco dos principais determinantes das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) do Ministério da Saúde e mostra pela primeira vez que o número de indivíduos que fazem uso diário ou ocasional de cigarro eletrônico, narguilé eletrônico, cigarro aquecido, vaporizadores, vaps ou outro dispositivo eletrônico para fumar manteve-se estável em todas as faixas de idade e escolaridade, apresentando aumento significativo entre adultos de 45 a 54 anos, variando de 0,4% em 2019 a 0,7% em 2023.
O relatório descreve a variação temporal de indicadores do Vigitel para o conjunto da população adulta das 27 cidades, assim como para seus estratos, definidos segundo sexo (masculino e feminino), idade (18 a 24, 25 a 34, 35 a 44, 45 a 54, 55 a 64, e 65 anos e mais) e escolaridade (0 a 8 anos, 9 a 11 anos, e 12 anos de estudo ou mais).
Dados da Organização Mundial de Saúde confirmam que o uso do tabaco continua a liderar as causas de mortes evitáveis em todo o mundo. Os dispositivos eletrônicos para fumar constituem um desafio recente, divulgados erroneamente como opções mais seguras ou “livres de fumaça” em comparação com cigarros convencionais. No entanto, evidências crescentes demonstram que os cigarros eletrônicos estão longe de representar estratégias de redução de danos frente ao tabagismo. Ao contrário, são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de uma série de doenças crônicas, como câncer, doenças pulmonares e cardiovasculares.
“Determinantes comerciais têm exercido enorme pressão sobre a Saúde. Temos a questão da obesidade pressionada pela indústria alimentícia com o estímulo ao consumo de ultraprocessados, o estímulo comercial ao consumo de bebidas alcoólicas e temos agora essa tentativa de modificar a regulamentação para flexibilizar a comercialização do cigarro eletrônico. Isso está em consulta pública. A sociedade precisa se contrapor a esses interesses e dizer não ao cigarro eletrônico”, diz Roberto de Almeida Gil, presidente do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). “Temos nos posicionado cada vez mais firmemente contra essa tentativa, porque a sociedade não vai conseguir superar a carga de doenças provocada por causas evitáveis. Precisamos convocar a sociedade brasileira a dizer não ao cigarro eletrônico”, destaca.
O Senado Federal abriu consulta pública sobre o projeto de Lei 5.008/2023, que dispõe sobre a produção, importação, exportação e venda dos cigarros eletrônicos no Brasil. Para votar contra a proposta e coibir o uso do cigarro eletrônico, basta manifestar sua discordância através do link https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=160523.
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