Onconews - Vitamina D e ômega-3 não previnem câncer e doenças cardiovasculares

DAN WAITZBERGSuplementos de vitamina D e ômega-3 não têm papel na prevenção de câncer ou doenças cardíacas. Os resultados dos estudos VITamin D e OmegA-3 TriaL - conhecidos como VITAL - foram apresentados na American Heart Association Scientific Sessions 2018, em Chicago, e publicados no New England Journal of Medicine. O estudo envolveu mais de 25 mil norte-americanos com mais de 50 anos e sem histórico de câncer ou doenças cardiovasculares. “É preciso discriminar entre a suplementação ampla e sem critério, over the counter, em relação àquela prescrita conscientemente por médico ou nutricionista”, alerta Dan Waitzberg (foto), diretor do GANEP Nutrição Humana e Professor Associado do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP. O especialista comenta os resultados.

O estudo randomizado, placebo-controlado, com um desenho fatorial dois a dois, avaliou o papel da vitamina D3 (em uma dose de 2000 UI por dia) e ômega-3 (em uma dose de 1 g por dia) na prevenção primária de doença cardiovascular e câncer entre homens com mais de 50 anos de idade e mulheres de 55 anos de idade ou mais nos Estados Unidos.

Os endpoints primários foram eventos cardiovasculares importantes (um composto de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral ou morte por causas cardiovasculares) e câncer invasivo de qualquer tipo. Os endpoints secundários incluíram componentes individuais do desfecho cardiovascular composto, o desfecho composto mais revascularização coronariana (composto expandido de eventos cardiovasculares), cânceres localizados e morte por câncer. A segurança também foi avaliada.

Ômega-3

Um total de 25.871 participantes, incluindo 5106 participantes afro-americanos, foi submetido a randomização. Durante um acompanhamento médio de 5,3 anos, um evento cardiovascular importante ocorreu em 386 participantes no grupo que recebeu suplemento de ômega e em 419 no grupo placebo (hazard ratio 0,92; 95% IC, 0,80 a 1,06; p=0,24). O câncer invasivo foi diagnosticado em 820 participantes no grupo Ômega- 3 e em 797 no grupo placebo (HR 1,03; 95% IC, 0,93 a 1,13; p = 0,56).

Na análise dos principais endpoints secundários, o hazard ratio para o endpoint composto expandido de eventos cardiovasculares foi 0,93 (95% IC, 0,82 a 1,04); para infarto do miocárdio total (HR 0,72; 95% IC, 0,59 a 0,90); para AVC total (HR 1,04; 95% IC, 0,83 a 1,31); para morte por causas cardiovasculares (HR 0,96; 95% IC, 0,76 a 1,21); e por morte por câncer (341 mortes por câncer; HR 0,97; 95% IC, 0,79 a 1,20). Na análise de morte por qualquer causa (978 mortes em geral), a taxa de risco foi de 1,02 (95% IC, 0,90 a 1,15). Nenhum excesso de risco de sangramento ou outros eventos adversos graves foram observados.

Vitamina D

A suplementação com vitamina D também não foi associada a um risco menor em nenhum dos desfechos primários. Durante um acompanhamento médio de 5,3 anos, o câncer foi diagnosticado em 1617 participantes (793 no grupo da vitamina D e 824 no grupo do placebo; hazard ratio, 0,96; [IC] 95%, 0,88 a 1,06; P = 0,47).

Um evento cardiovascular importante ocorreu em 805 participantes (396 no grupo da vitamina D e 409 no grupo do placebo; HR 0,97; 95% IC, 0,85 a 1,12; P = 0,69). Na análise dos desfechos secundários, o hazard ratio para morte por câncer foi 0,83 (341 mortes; 95% IC, 0,67 a 1,02); para câncer de mama (HR: 1,02; 95% IC, 0,79 a 1,31); para câncer de próstata (HR: 0,88; 95% IC, 0,72 a 1,07); para câncer colorretal (HR 1,09; 95% IC, 0,73 a 1,62); para o endpoint composto expandido de eventos cardiovasculares maiores mais revascularização coronariana (HR: 0,96; 95% IC, 0,86 a 1,08); para infarto do miocárdio (HR: 0,96; 95% IC, 0,78 a 1,19); para AVC (HR: 0,95; 95% IC, 0,76 a 1,20); e para morte por causas cardiovasculares (HR: 1,11; 95% IC, 0,88 a 1,40).

Na análise de morte por qualquer causa (978 mortes), o hazard ratio foi de 0,99 (95% IC, 0,87 a 1,12). Nenhum excesso de risco de hipercalcemia ou outros eventos adversos foram identificados.

Em conclusão, o estudo demonstrou que tanto a suplementação com vitamina D, como com ômega-3, não resultara, em menor incidência de câncer invasivo ou eventos cardiovasculares em comparação com placebo. (Financiado pelo National Institutes of Health e outros; VITAL ClinicalTrials.gov number, NCT01169259.)

“Os resultados recentemente publicados sobre o impacto de omega-3 e vitamina D em doenças cardiovasculares, câncer e mortalidade não mostraram efeitos significantes em uma grande população avaliada por um longo período de tempo. Isso significa que não devemos suplementar estes nutrientes? Acredito que não”, afirma Waitzberg. 

O especialista argumenta que existem grupos de risco que não ingerem os referidos nutrientes na quantidade necessária preconizada pelo RDA, e a deficiência dos mesmos causa sinais e sintomas bem descritos. “Um bom exemplo são as crianças, que não comem frutas, vegetais e peixes, e os idosos pelas mesmas razões. Adiciona-se, por exemplo, os atletas de alta performance e pacientes após cirurgia bariátrica, ou que sofreram ressecção ileal e não absorvem gorduras”, observa.

“É preciso discriminar entre a suplementação ampla e sem critério, over the counter, em relação àquela prescrita conscienciosamente por médico ou nutricionista”, conclui.

Referências: Marine n−3 Fatty Acids and Prevention of Cardiovascular Disease and Cancer - JoAnn E. Manson et al., for the VITAL Research Group - November 10, 2018 DOI: 10.1056/NEJMoa1811403

Vitamin D Supplements and Prevention of Cancer and Cardiovascular Disease - JoAnn E. Manson et al.,  for the VITAL Research Group* - November 10, 2018 DOI: 10.1056/NEJMoa1809944