Estudo brasileiro apresentado na conferência mundial de câncer de pulmão (WCLC 2017) mostrou em números o potencial de anos de vida perdidos, assim como o investimento para a implementação dos inibidores de tirosina-quinase (TKI) para tratamento de câncer de pulmão em pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). O trabalho aponta que a falta de acesso aos TKIs de EGFR custou mais de 18.676 anos de vida no Brasil nos últimos 7 anos. Primeiro autor do estudo, o oncologista Pedro Nazareth Aguiar Júnior (foto), da Unifesp, traz em contexto a importância dos resultados.
O câncer de pulmão é o quarto câncer mais incidente no Brasil, com 28,2 mil novos casos em 2017. É a principal causa de mortes relacionada ao câncer, com 23.393 óbitos em 2013.
O estudo brasileiro contextualizou os avanços alcançados na década de 2000, quando a maior compreensão da biologia tumoral levou ao desenvolvimento de tratamentos alvo-direcionados. Em pacientes com mutações ativadoras do câncer de pulmão, a introdução dos inibidores de tirosina-quinase de EGFR (TKI) levou a aumentos significativos na taxa de resposta e na sobrevida livre de progressão. No entanto, o tratamento não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) em razão do alto custo e de não representar impacto na sobrevida global em estudos clínicos randomizados.
Os pesquisadores estimaram o número de casos elegíveis para o tratamento, a partir de dados epidemiológicos do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e da base de dados nacional sobre a frequência de mutações EGFR desde julho de 2010, data da aprovação de gefitinibe no Brasil.
As curvas do Lung Cancer Mutation Consortium foram utilizadas para ilustrar as diferenças de sobrevida entre pacientes tratados com inibidores de EGFR e quimioterapia. Os custos do tratamento com TKI basearam-se na referência nacional (R$ 2 a 7 mil mensalmente) e foram comparados com o valor reembolsado pelo sistema público de saúde brasileiro para quimioterapia (R$ 1.100 mensalmente).
Resultados
O estudo mostrou que 2.224 pacientes por ano são elegíveis aos inibidores de tirosina-quinase de EGFR no Sistema Único de Saúde. Desde a aprovação de gefitinibe no Brasil, em 2010, o número estimado de anos de vida perdidos pela falta de acesso ao medicamento no SUS foi de 1.556 por ano. “A incorporação dos TKI no sistema público de saúde custaria até 150 milhões de reais ao ano. O custo incremental por ano de vida salvo foi de até 80 mil reais. “Embora nossa análise não considere a qualidade de vida, o custo de por ano de vida salvo é inferior a três vezes o PIB per capita brasileiro (aproximadamente 35 mil dólares)”, sustentam os autores. “A falta de acesso aos TKIs de EGFR custou mais de 10 mil anos de vida potencialmente salvos no Brasil nos últimos 7 anos”, concluem.
"Mais do que apontar problemas, precisamos buscar soluções para a questão de acesso em nosso país. Em nosso estudo, verificamos que a política de fixação do custo dos TKIs anti-EGFR abaixo do valor remunerado pela APAC do SUS reduziu o impacto orçamentário em 95%, favorecendo a incorporação desses agentes na prática diária do Sistema Único de Saúde", afirma Pedro Aguiar.
Referência: P2.03-006 - How Many Years of Life Have We Lost in Brazil Due to the Lack of Access to Anti-EGFR TKIs in the National Public Health System? - Presenting Author(s): Pedro Aguiar Jr | Author(s): F. Roitberg, H. Tadokoro, R.A. De Mello, A. Del Giglio, Gilberto Lopes