Em artigo exclusivo, as oncologistas Ana Gelatti (na foto, à direita) e Samira Mascarenhas, membros do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT) comentam os destaques da 18th World Conference on Lung Cancer – IASLC (International Association of Study in Lung Cancer), que aconteceu entre os dias 15 a 18 de outubro em Yokohama, Japão. No evento, foram apresentados 2252 trabalhos envolvendo os diversos temas e englobando todos os aspectos da discussão multidisciplinar.
Por Ana Gelatti e Samira Mascarenhas, membros do GBOT.
O evento reuniu oncologistas, radio- oncologistas, pneumologistas e cirurgiões torácicos de todo mundo. Foram apresentados 2252 trabalhos envolvendo os diversos temas e englobando todos os aspectos da discussão multidisciplinar. Destes, destacamos aqui 3 trabalhos que foram apresentados no simpósio presidencial, classificados como os melhores abstracts.
O primeiro deles é o PL 02.02 - Patient-Reported Outcomes with Durvalumab after Chemoradiation in Locally Advanced, Unresectable NSCLC: Data from PACIFIC. Os dados iniciais do PACIFIC trial foram apresentados na ESMO e publicados na íntegra no NEJM. Nesta conferência os autores acrescentaram os dados de qualidade de vida não divulgados previamente. O estudo propôs comparar na população de pacientes EC III respondedores ao tratamento combinado de quimiorradioterapia, o uso ou não (placebo) de terapia de manutenção com Durvalumab.
Para isso, 713 pacientes foram randomizados 2:1 entre durvalumab e placebo. Os objetivos principais do estudo foram avaliar sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG). Entre os objetivos secundário foram avaliados taxa de resposta, duração de resposta, bem como dados de qualidade de vida. Os dados de SLP foram positivos, favorecendo uso de durvalumab, com uma diferença de 11 meses em relação ao placebo.
No que se refere à qualidade de vida, foram avaliados sintomas chaves, como dispnéia, tosse, perda ponderal, dor torácica e fadiga, sendo que ao longo da exposição não houve variação em relação ao basal. A adição de durvalumab melhorou positivamente os resultados na população de pacientes com doença localmente avançada. Além disso, os dados de qualidade de vida reforçam a aplicabilidade do estudo, que teve um desenho adequado. A avaliação dessas medidas é extremamente importante para acessarmos o impacto do tratamento na vida dos pacientes, além de avaliarmos a perspectiva do paciente no contexto de tratamento.
O segundo abstract foi o PL 02.04 - SCAT Ph III Trial: Adjuvant CT Based on BRCA1 Levels in NSCLC N+ Resected Patients. Final Survival Results a Spanish Lung Cancer Group Trial. A otimização dos resultados de adjuvância tem sido estudada incessantemente. Uma das tentativas é customizar a adjuvância de acordo com perfil molecular tumoral.
Nesse estudo, os pacientes foram randomizados para um braço controle que foi submetido a quimioterapia com docetaxel e cisplatina e o braço experimental era dividido em 3 subgrupos. Aqueles com baixa expressão de BRCA foram submetidos a gencitabina e cisplatina, o segundo grupo, com expressão intermediária, submetido a docetaxel e cisplatina; o terceiro grupo, com alta expressão, foi submetido a docetaxel isolado. O endpoint primário (SG) do estudo não alcançou benefício, porém ao analisar os subgrupos (comparação não adequada pelo tamanho da amostra) percebe-se que no grupo de baixa expressão houve um benefício em favor dos pacientes do braço experimental, e quando se avalia o grupo que recebeu apenas docetaxel, não houve diferença em relação àquele associado à cisplatina.
Deste modo nos questionamos a respeito da possibilidade de abrirmos mão da platina nesse subgrupo. Apesar do estudo ter seu objetivo primário negativo, ele nos traz importantes considerações nesse subgrupo de pacientes que recebem tratamento curativo. É provável que futuramente o BRCA possa fazer parte da estratificação destes pacientes em estudos clínicos.
O terceiro trabalho selecionado foi o PL 02.06 - The IASLC Lung Cancer Staging Project: Analysis of Resection Margin Status and Proposals for R Status Descriptors for Non-Small Cell Lung Cancer. Esta é uma análise baseada em 14712 pacientes que foram submetidos a cirurgia, em que o status de ressecabilidade e dados de sobrevida estavam disponíveis. Critérios como número de estações, dissecção linfonodal, extensão extracapsular, carcinoma brônquico in situ e margem de ressecção foram considerados. As categorias R (0, 1 e 2) foram avaliadas quanto à sobrevida. O estado de R correlacionou-se com os estádios T e N (p <0,0001). Após a reatribuição de acordo com a definição proposta pela IASLC, houve 6.103 casos R0, 8.203 R (un), 250 R1 e 156 R2. Esses dados confirmam os critérios propostos para o status R desconhecido, R (un), com um prognóstico estratificando entre R0 e R1. É necessária uma maior coleta prospectiva detalhada de dados para caracterizar completamente o impacto prognóstico desses critérios.
Um número expressivo de trabalhos foi apresentado, mostrando grande interesse da comunidade cientifica em otimizar os resultados do câncer de pulmão, que tem mudado de forma muito positiva ao longo dos últimos anos.