O oncologista Andre Murad (foto) discute a hipóxia tumoral, uma característica de todos os tumores sólidos heterogêneos, como fator de instabilidade genômica. “Níveis aumentados ou sub-regiões de hipóxia tumoral estão associados a um prognóstico clínico adverso, particularmente quando isso ocorre simultaneamente com instabilidade genômica”, destaca. Confira, em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’.
Por André Marcio Murad*
Evidências experimentais apontam para a aquisição de alterações cromossômicas e de DNA em células hipóxicas em proliferação secundária à inibição de vias de reparo de DNA, como recombinação homóloga, reparo por excisão de base e reparo de incompatibilidade.
A adaptação e seleção celular em células com deficiência de reparo dão origem a um modelo pelo qual novas mutações de nucleotídeo único, variantes estruturais e alterações no número de cópias coexistem com controle mitótico alterado para conduzir instabilidade cromossômica e aneuploidia.
Estudos de sequenciamento do genoma completo apoiam o conceito de que a hipóxia é um cofator microambiental crítico ao lado das mutações driver em MYC, BCL2, TP53 e PTEN na determinação da evolução clonal e subclonal em vários tipos de tumores.
O microambiente tumoral hipóxico seleciona clones tumorais instáveis que sobrevivem, propagam e metastatizam sob vigilância imunológica reduzida. Essas características agressivas das células tumorais hipóxicas sustentam a resistência a terapias locais e sistêmicas e resultados desfavoráveis para pacientes com câncer.
*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da Clínica OncoLavras