Onconews - Entendendo o RNA de interferência (RNAi) e sua regulação da expressão gênica

Em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista Andre Murad (foto) explica o que é o RNA de interferência (RNAi), um conjunto de pequenas moléculas de RNAs complementares a RNAs mensageiros (mRNA's) que inibe e regula a expressão gênica na fase de tradução. Confira.

Por André Marcio Murad*

O RNA de interferência também age dificultando a transcrição de genes específicos através de um processo biológico natural de degradação de moléculas específicas de mRNA, impedindo assim a síntese de proteínas. Esse processo desempenha um papel crucial na defesa celular e na regulação gênica, mas com um enorme potencial de aplicações terapêuticas, incluindo no tratamento do câncer. 

A via consiste de três estágios principais:

1. Corte 

O processo começa com RNA fita dupla (dsRNA), que pode se originar de vírus, transposons ou RNA endógeno. Uma enzima chamada Dicer reconhece o dsRNA e o cliva em pequenos RNAs interferentes curtos (siRNAs; normalmente de 20 a 25 nucleotídeos de comprimento.

2. Carregamento 

O siRNA é carregado no Complexo de Silenciamento Induzido por RNA (RISC), um complexo multiproteico. O RISC desenrola o siRNA, retendo a fita guia, que é complementar ao mRNA alvo.

3. Fatiamento 

O complexo RISC-siRNA ativado se liga a sequências de mRNA complementares. A proteína Ago2 (Argonaute) dentro do RISC cliva o mRNA alvo, levando à degradação do mRNA e ao silenciamento do gene.

Funções e potenciais aplicações do RNAi

  • Regulação genética: o RNAi ajuda a controlar a expressão genética nas células.
  • Defesa antiviral: as células usam o RNAi para combater infecções virais, visando o RNA viral.
  • Terapêutica: medicamentos baseados em RNAi estão sendo desenvolvidos para tratar doenças como câncer, distúrbios genéticos e infecções virais.

O RNAi é, portanto, uma ferramenta poderosa em biologia molecular e apresenta um grande potencial na terapia genética, na pesquisa biomédica e no tratamento de doenças. 

 

drops rnai

 

*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da Clínica OncoLavras