Em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista Andre Murad (foto) esclarece algumas interações importantes entre o gene TP53 e outros genes que contribuem para a coordenação de processos celulares vitais. Confira.
Por André Marcio Murad*
O gene TP53, frequentemente chamado de "guardião do genoma", fornece instruções para a produção de uma proteína chamada proteína tumoral p53 (ou p53). Esta proteína atua como supressora de tumores, desempenhando um papel crucial na regulação de inúmeras funções biológicas, incluindo controle do ciclo celular, reparo de DNA, apoptose (morte celular programada), senescência e estabilidade genômica. As interações entre o gene TP53 e outros genes são intrincadas e multifacetadas, contribuindo para a coordenação desses processos celulares vitais. Aqui está uma descrição de algumas interações importantes:
- Regulação do Ciclo Celular: o TP53 interage com vários genes envolvidos na regulação do ciclo celular, como inibidores de cinase dependentes de ciclina (por exemplo, p21) e ciclinas. Essas interações modulam a progressão do ciclo celular, permitindo o reparo do DNA danificado ou o início da apoptose se o dano for irreparável.
- Vias de reparo de DNA: o TP53 participa da ativação de genes envolvidos em mecanismos de reparo de DNA, como aqueles que codificam enzimas envolvidas no reparo de excisão de base, reparo de excisão de nucleotídeo e recombinação homóloga. Ao promover o reparo de DNA, a proteína p53 ajuda a manter a integridade genômica e previne o acúmulo de mutações.
- Apoptose: em resposta a danos graves no DNA ou outros estresses celulares, a proteína p53 ativa a expressão de genes pró-apoptóticos (por exemplo, Bax, Puma) e reprime genes anti-apoptóticos (por exemplo, Bcl-2). Essa interação desencadeia a via apoptótica, levando à eliminação de células danificadas ou potencialmente prejudiciais.
- Senescência: a proteína p53 induz a senescência celular ao regular positivamente a expressão de genes envolvidos no fenótipo secretor associado à senescência (SASP). Esses genes promovem a secreção de vários fatores que reforçam a parada do ciclo celular e contribuem para o estabelecimento de um fenótipo senescente.
- Metabolismo: a proteína p53 influencia as vias metabólicas regulando a expressão de genes envolvidos no metabolismo da glicose (por exemplo, GLUT1, regulador de glicólise e apoptose induzido por TP53 - TIGAR), metabolismo lipídico e função mitocondrial. Essas interações ajudam a manter a homeostase da energia celular e o equilíbrio redox.
- Angiogênese e metástase: a proteína p53 pode regular a expressão de genes envolvidos na angiogênese (por exemplo, VEGF) e metástase (por exemplo, MMP-2, MMP-9), afetando assim a progressão e invasão do tumor.
- Resposta imune: a proteína p53 modula a expressão de genes envolvidos na resposta imune, incluindo citocinas, quimiocinas e reguladores de ponto de verificação imune. Essas interações influenciam o microambiente tumoral e a vigilância imunológica contra células cancerígenas.
*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da CETTRO Oncologia (DF)