Onconews - Entendendo as variações do número de cópias (CNV’s) do nosso genoma

Murad 2019 bxA variação do número de cópias (do inglês, CNV - copy number variation) é uma circunstância em que o número de cópias de um segmento específico de DNA varia entre os genomas de diferentes indivíduos. Em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista Andre Murad (foto) explica o que são as CNVs e seu potencial papel como fator de risco para o desenvolvimento do câncer. Confira.

Por André Marcio Murad*

As variantes individuais podem ser curtas ou incluir milhares de bases. Essas diferenças estruturais podem surgir por meio de duplicações, deleções ou outras alterações e podem afetar longos trechos de DNA. Essas regiões, por sua vez, podem ou não conter gene ou genes.

Nas CNV’s, cada repetição é maior que 1 kb de comprimento. Embora muitas CNVs sejam pequenas, algumas têm centenas de quilobases de comprimento, abrangem vários genes e resultam em diferenças na dosagem de genes (a dosagem de um gene se refere ao número de cópias desse gene presente em um genoma). As deleções maiores que ocorrem como variações estruturais estão frequentemente em regiões cromossômicas presentes em mais de uma cópia devido a duplicações anteriores, sugerindo que os genes nos segmentos deletados sejam redundantes. Uma provável origem dos indels é a ocorrência de “crossing over” desigual após o pareamento incorreto durante a meiose por meio do desalinhamento de sequências repetitivas.

As CNVs são um componente importante da variação genética, afetando uma fração maior do genoma do que os polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs). O advento de matrizes SNP de alta resolução tornou possível identificar CNVs. A caracterização de CNVs constitucionais (germinativas) fornece informações sobre seu papel na suscetibilidade a um amplo espectro de doenças, e a das CNVs somáticas podem ser usadas para identificar regiões do genoma envolvidas em fenótipos de várias doenças, incluindo o câncer.

O papel das CNVs como fatores de risco para o desenvolvimento do câncer é atualmente subestimado. No entanto, a instabilidade genômica e o dinamismo estrutural que caracterizam as células malignas parecem tornar essa forma de variação genética particularmente intrigante e de interesse para o entendimento de suas consequências fenotípicas, agindo inclusive como potenciais alvos terapêuticos.

O estudo da associação entre câncer e CNVs está em sua fase embrionária, mas amadurecendo rapidamente. Ao se considerar o efeito dessa forma de variação genética na predisposição ao câncer, na expressão gênica do câncer e no perfil do genoma dos tumores, há muito o que se aprender com estudos anteriores sobre as alterações genômicas.  Microarrays mais densos, sequenciamento de próxima geração e análises de informática integrativa estão sendo incorporados às tecnologias já disponíveis e prometem revolucionar a identificação de novas CNVs e CNAs.

drops cnv


*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da CETTRO Oncologia (DF)