Onconews - Impacto psicossocial da quimioterapia

quimio NET OKA percepção dos pacientes de câncer em relação aos efeitos colaterais da quimioterapia muda não apenas ao longo do tempo, mas também ao longo do tratamento. Os resultados do estudo apresentado na ESMO 2017 demonstram que os fatores psicossociais são mais significativos para os pacientes do que eventos adversos físicos, como náuseas e vômitos, que estavam entre as principais preocupações em estudos semelhantes realizados anteriormente.

Os efeitos colaterais da quimioterapia influenciam seriamente a vida dos pacientes com câncer, e gerenciá-los é uma preocupação de longa data. As avaliações dos pacientes sobre o assunto são realizadas regularmente desde 1983. Agora, os pesquisadores atualizaram a pesquisa e avaliaram as mudanças na percepção de pacientes com câncer de mama e câncer de ovário sobre os eventos adversos da quimioterapia em comparação com estudos anteriores. A nova versão adiciona uma análise longitudinal, com a realização de três entrevistas separadas: antes, durante e no final do tratamento com quimioterapia.

"A análise mais recente foi realizada em 2002, e achamos que era hora de coletar novos dados e atualizar o formato da entrevista. As condições de vida mudaram, assim como avançaram as terapias de manejo dos eventos adversos relacionados à quimioterapia. Como médicos, precisamos saber quais são as maiores preocupações dos nossos pacientes", afirmou Beyhan Ataseven, da Kliniken Essen Mitte Evang, Huyssens-Stiftung em Essen, Alemanha, e primeira autora do estudo.

Métodos e resultados

No estudo prospectivo, foram recrutados 140 pacientes com câncer de mama (n=95) e câncer de ovário (n=45) com indicação de quimioterapia. Em três visitas diferentes (antes (T1), semana 12 +/- 3 (T2) e no final da quimioterapia (T3)). As três entrevistas foram concluídas em 113 pacientes.

Os pacientes foram apresentados a 72 cartas, divididas em dois grupos, com efeitos colaterais físicos e não físicos, e convidados a selecionar e classificar por importância os cinco sintomas de maior impacto em cada grupo. Desses 10 eventos adversos principais, os participantes fizeram uma nova seleção dos cinco mais relevantes de ambos os grupos, e novamente os classificaram por ordem de importância.

O evento adverso da quimioterapia relatado como mais grave foi "distúrbios do sono", em comparação com "vômitos", na avaliação realizada em 1983, "náuseas" em 1993, e "impacto na família/parceiro" em 2002 (tabela 1). "Perda de cabelo" permaneceu uma preocupação importante e presente em todos os estudos.

Ranking de efeitos colaterais1983 (Coates et al.)1993 (Griffin et al.)2002 (Carelle et al.)2016 Estudo atual
1VômitosNáuseaImpacto na família ou parceiro (a)Distúrbios do sono
2NáuseaFadiga constantePerda de cabeloImpacto na família ou parceiro (a)
3Perda de cabeloPerda de cabeloFadiga constantePerda de cabelo
4Ansiedade com o tratamentoAnsiedade com o tratamentoImpacto no trabalho e tarefas domésticasDormência nos membros
5Duração do tempo de tratamento na clínicaVômitosImpacto nas atividades sociaisFalta de ar
Tabela 1


No geral, a percepção dos pacientes durante todo o curso de sua quimioterapia, os efeitos colaterais mais difíceis de lidar são distúrbios do sono - que se tornam cada vez mais importantes ao longo do tempo - e ansiedade sobre os efeitos de sua doença em seu parceiro ou família.

‘Sensação de não saber lidar’ e ‘náusea’ foram classificados apenas no primeiro questionário (T1), mas não nos dois seguintes (T2/T3). ‘Perda de cabelo’ foi classificada em T1/T2, e não mais em T3. Já ‘dormência nos membros’ tornou-se relevante em T2/T3 (tabela 2).

RankingT1 (antes do início da quimioterapia)T2 (após 12+- 3 semanas do início da quimioterapia)T3 (fim da quimioterapia +- 2 semanas)
1Impacto na família ou parceiro (a)Distúrbios do sonoDistúrbios do sono
2Ansiedade com o tratamentoImpacto na família ou parceiro (a)Impacto na família ou parceiro (a)
3Perda de cabeloDormência nos membrosDormência nos membros
4NáuseaPerda de cabeloImpacto no trabalho e tarefas domésticas
5Distúrbios do sonoFalta de arPontadas nos membros (dedos das mãos e dos pés)
Tabela 2


Se por um lado, efeitos colaterais como náuseas e vômitos não são mais um grande problema, o que pode ser explicado pela maior eficácia dos modernos tratamentos para lidar com esses sintomas, por outro, a perda do cabelo ainda é uma questão persistente e não resolvida que afeta os pacientes, principalmente, no início do tratamento. Com o decorrer do tratamento os pacientes se acostumam com a alopecia e outros efeitos colaterais se tornam mais significativos.

"Os resultados mostram que pode haver uma lacuna entre o que os médicos pensam ser importante para os pacientes, e o que os pacientes realmente pensam”, disse Karin Jordan, presidente do ESMO Faculty Group on Palliative and Supportive Care e médica no Departamento de Medicina da Universidade de Heidelberg.

“É necessário apoio físico, psicológico, social e espiritual em todas as fases da doença. Também precisamos de estudos semelhantes com pacientes com outros tipos de câncer - incluindo análises de como um manejo ótimo dos eventos adversos influencia a trajetória da doença", acrescentou.

Segundo Ataseven, esses achados podem levar a considerar possíveis melhorias nas terapias de acompanhamento oferecidas aos pacientes. “Por exemplo, remédios para dormir não fazem parte do regime de rotina. Também há uma clara necessidade de proporcionar melhor apoio psicológico para abordar as ansiedades sociais e preocupações familiares dos pacientes", concluiu.

A ESMO publicará em breve um position paper sobre a necessidade de integrar os cuidados paliativos e de suporte desde o diagnóstico e ao longo do curso da doença.

Referência: Abstract 1472P_PR 'Change of patient perceptions of chemotherapy side effects in breast and ovarian cancer patients' - B. Ataseven et al