Onconews - SPARTAN: análise molecular no câncer de próstata

EDUARDO ZUCCA BXEstudo de Fase III (SPARTAN) que avaliou a adição de apalutamida à terapia de privação androgênica mostrou benefício tanto em sobrevida livre de metástases quanto em sobrevida global deste esquema de tratamento em pacientes com câncer de próstata não metastático resistente à castração. Agora, análise exploratória apresentada no ASCO GU 2021 traz dados de assinaturas biológicas associadas à resposta de longo prazo. O oncologista Eduardo Zucca (foto), coordenador geral de pesquisa clínica no Instituto do Câncer Brasil (IC Brasil), comenta os resultados.

Nesta análise os pacientes foram caracterizados de acordo com a resposta ao tratamento, separados em quartis e discriminados para o grupo tratado com apalutamida (APA) ou placebo (PBO).  Pacientes que progrediram no primeiro quartil (APA, 21; PBO, 17), com menor tempo para o evento metastático, foram classificados como progressores precoces (EP), enquanto aqueles que progrediram ou não apresentaram progressão no último quartil (APA, 39; PBO, 20) foram classificados como respondedores de longo prazo (LTR).

Os perfis de expressão gênica foram gerados a partir de arquivos de 233 tumores de próstata através do teste DECHIPER. Vale ressaltar que as características demográficas dos dois grupos eram bastante semelhantes. As assinaturas gênicas predefinidas foram comparadas entre os grupos LTR e EP nos braços APA e PBO usando teste- t de 2 amostras. As assinaturas associadas com LTR e EP foram identificadas usando valores de p inferiores a 0,05.

Resultados

Os dados apresentados no ASCO GU 2021 mostram que o tempo médio para a progressão metastática foi de 40,5 meses em pacientes que receberam APA e de 22 meses entre os que receberam PBO no grupo de respondedores de longo prazo (LTR). No grupo EP, o tempo médio para progressão foi de 7,3 meses para APA e de 3,6 meses com PBO.

 As assinaturas moleculares consideraram mecanismos de regulação imunológica, proliferação e dependência hormonal associados com LTR em APA, incluindo ativação das células T (p = 0,0045), estimulação (p = 0,0642), resposta das citocinas (p = 0,0489), produção de interferon (resposta gama p = 0,0227), diminuição da exclusão de células T (p = 0,0652), baixa capacidade proliferativa (p = 0,0435) e aumento da dependência hormonal (p = 0,0485). “Importante notar que pacientes com perfil basal e regulação aumentada de células T se assemelham na resposta daqueles pacientes com perfil luminal”, ressalta Zucca.

Tumores de alto risco (DECIPHER p = 0,0406, potencial metastático p = 0,0077) que não respondem à terapia hormonal (basal p = 0,0115; atividade do receptor de andrógeno baixa, p = 0,0437) e tumores do tipo neuroendócrino (p = 0,0125) foram associados com progressão precoce no grupo PBO.

“Embora os dados exijam confirmação em estudos maiores, esses determinantes moleculares podem ter utilidade na seleção de pacientes com nmCRPC que podem derivar o maior benefício de APA e de outros inibidores de sinalização de andrógenos”, afirmam os autores.

Zucca observa que com o arsenal terapêutico que temos para tratamento de pacientes com câncer de próstata resistente à castração, é imprescindível determinar marcadores moleculares preditivos de resposta. “Esse estudo vem com esse intuito, de separar pacientes que responderam ao bloqueio androgênico de segunda geração. Apesar de não ser um estudo prospectivo, e sim uma análise exploratória, o trabalho deixa o caminho aberto para estudos prospectivos selecionando pacientes através de um perfil molecular para o melhor tratamento”, conclui.  

Este estudo está registrado na plataforma ClinicalTrials: NCT01946204

Referência: Abstract #8 - Molecular determinants associated with long-term response to apalutamide (APA) in nonmetastatic castration-resistant prostate cancer (nmCRPC). - Felix Y Feng et al. - J Clin Oncol 39, 2021 (suppl 6; abstr 8) - DOI: 10.1200/JCO.2021.39.6_suppl.8