charles swanton esmo22Estudo selecionado como Late Breaking Abstract 1 no ESMO 2022 demonstrou que a exposição a partículas de 2,5 micrômetros (μm) de diâmetro (PM2,5) aumenta o risco de câncer de pulmão de células não pequenas em indivíduos não fumantes com mutações EGFR. “As mesmas partículas no ar que derivam da combustão de combustíveis fósseis, exacerbando as mudanças climáticas, estão impactando diretamente a saúde humana por meio de um importante e anteriormente negligenciado mecanismo causador de câncer nas células pulmonares”, afirmou Charles Swanton (foto), diretor clínico do Francis Crick Institute and Cancer Research UK, em Londres, Reino Unido, em apresentação dos resultados da pesquisa no Simpósio Presidencial do encontro europeu.

“A base mecanicista para o início do câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC) em indivíduos não tabagistas, uma doença com alta frequência de mutações do EGFR (EGFRm), é desconhecida. O poluente do ar, material particulado (PM), é conhecido por estar associado ao risco de CPCNP. No entanto, uma causa direta e o mecanismo associado a esse risco permanecem indefinidos”, afirmam os autores.

Nesse estudo, foram analisados 463.679 indivíduos na Inglaterra, Coreia do Sul e Taiwan para abordar as associações do aumento das concentrações de 2,5um PM (PM2.5) com o risco de câncer. Os pesquisadores também realizaram perfis ultraprofundos de 247 amostras de tecido pulmonar normal, analisaram o tecido pulmonar normal de humanos e camundongos após exposições ao PM e investigaram as consequências do PM na promoção de tumores em modelos de câncer de pulmão de camundongos.

Resultados

O aumento dos níveis de PM2.5 foi associado ao aumento do risco de CPNPC e ao aumento do risco de mesotelioma (HR=1,19), pulmão (HR=1,16), anal (HR=1,23), intestino (HR=1,30), GBM (HR=1,19), lábio, cavidade oral e faringe (HR: 1,15) e carcinomas de laringe (HR=1,26) no UK Biobank; hazard ratio para cada incremento de 1ug/m3 PM2.5. 15-53% das amostras de tecido pulmonar normal abrigam mutações driver em EGFR e KRAS na ausência de malignidade. PM promove uma resposta de macrófagos e um estado progenitor-like no epitélio pulmonar que abriga o EGFR mutado. O PM aumentou a carga tumoral em três modelos de câncer de pulmão acionados por EGFR ou KRAS de maneira dose-dependente.

Os autores também demonstraram que a poluição do ar impulsiona o influxo de macrófagos que liberam o mediador inflamatório, a interleucina-1β, impulsionando a expansão das células com as mutações do EGFR em resposta à exposição ao PM2.5, e que o bloqueio da interleucina-1β inibiu o início do câncer de pulmão. Esses achados foram consistentes com dados de um grande ensaio clínico anterior mostrando a redução dose-dependente na incidência de câncer de pulmão quando as pessoas foram tratadas com o anticorpo anti-IL1β, canaquinumabe.

“Esses resultados esclarecem a etiologia do câncer de pulmão EGFRm, particularmente em nunca fumantes, e sugerem que mutações oncogênicas podem ser necessárias, mas insuficientes para a formação do tumor. Esses dados revelam uma base mecanicista para o câncer de pulmão causado por PM na ausência de mutagênese carcinogênica clássica, reminiscente dos modelos de iniciação e promoção de tumores propostos há 70 anos, fornecendo evidências para limitar a poluição do ar e oportunidades para a prevenção do câncer com alvo molecular”, destacam os autores.

“O risco de câncer de pulmão causado pela poluição do ar é menor do que pelo fumo, mas não temos controle sobre o que todos respiramos. Globalmente, mais pessoas estão expostas a níveis não seguros de poluição do ar do que a produtos químicos tóxicos na fumaça do cigarro, e esses novos dados ligam a importância de abordar a saúde climática para melhorar a saúde humana”, concluiu Swanton.

Referências: 

1 - C. Swanton, W. Hill, E. Lim, C. Lee, C.E. Weeden, M. Augustine, K. Chen, F.-C. Kuan, F. Marongiu, F. Rodrigues, H. Cha, T. Jacks, M. Luchtenborg, I. Malanchi, J. Downward, C. Carlsten, A. Hackshaw, K.R. Litchfield, J. DeGregori, M. Jamal-Hanjani. Mechanism of action and an actionable inflammatory axis for air pollution induced non-small cell lung cancer: towards molecular cancer prevention. ESMO Congress 2022, LBA1

2 - Ridker PM, MacFadyen JG, Thuren T et al. Effect of interleukin-1β inhibition with canakinumab on incident lung cancer in patients with atherosclerosis: exploratory results from a randomised, double-blind, placebo-controlled trial. Lancet 2017 Oct 21; 390 (10105): 1833-1842