Onconews - IMmotion010: atezolizumabe adjuvante não mostra benefício no câncer renal

ariel kannO anti-PD-L1 atezolizumabe como terapia adjuvante após ressecção para pacientes com carcinoma de células renais com risco aumentado de recorrência não melhorou os resultados clínicos em comparação com placebo na população com intenção de tratar (ITT), mas teve um perfil de segurança gerenciável. Os resultados são do estudo IMmotion010, apresentado em sessão oral no ESMO 20221 e publicado simultaneamente no Lancet2, em artigo com participação do oncologista Ariel Kann (foto), chefe de oncologia clínica no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

O padrão de atendimento para carcinoma de células renais (CCR) locorregional é a nefrectomia e, num cenário de metástase única, a metastasectomia tem seu papel, mas muitos pacientes apresentam recorrência.

O estudo Fase 3 IMmotion010, multicêntrico, randomizado, placebo-controlado, duplo-cego, realizado em 215 centros em 28 países, e incluiu pacientes com carcinoma renal com componente de células claras ou histologia sarcomatóide, com risco aumentado de recidiva pós-nefrectomia. Risco aumentado foi caracterizado por T2 (Fuhrman 4), T3a (Fuhrman 3 ou 4), T3b/c ou T4 (independente do Fuhrman) ou N+. Foram incluídos ainda pacientes submetidos à metastasectomia (para pacientes sem evidência de doença).

A randomização foi realizada feita com um sistema interativo de resposta de voz-web. Os fatores de estratificação foram estágio da doença (T2 ou T3a vs T3b–c ou T4 ou N+ vs M1 sem evidência de doença), região geográfica (América do Norte [excluindo México] vs resto do mundo) e status de PD-L1 na infiltração tumoral células imunes (expressão <1% vs ≥1%).

O desfecho primário foi a sobrevida livre de doença avaliada pelo investigador na população com intenção de tratar, definida como todos os pacientes que foram randomizados, independentemente do tratamento do estudo ter sido recebido.

Os endpoints secundários incluíram SG e DFS avaliado pelo mecanismo de revisão independente (IRF) na população ITT, e INV-DFS e IRF-DFS em pacientes com expressão de células imunes PD-L1 1% (ensaio VENTANA SP142 IHC).

Resultados

Entre 3 de janeiro de 2017 e 15 de fevereiro de 2019, 778 pacientes foram inscritos; 390 (50%) foram atribuídos ao braço atezolizumabe e 388 (50%) ao braço placebo. No cut off de dados (3 de maio de 2022), a duração média do acompanhamento foi de 44,7 meses (IQR 39,1–51,0). A mediana de sobrevida livre de doença avaliada pelo investigador foi de 57,2 meses (95% CI 44,6 a não avaliável) com atezolizumabe e 49,5 meses (47,4 a não avaliável) com placebo (hazard ratio 0,93, 95% CI 0,75–1,15, p=0,50).

Os eventos adversos de grau 3-4 mais comuns foram hipertensão (sete [2%] pacientes que receberam atezolizumabe vs 15 [4%] pacientes que receberam placebo), hiperglicemia (dez [3%] vs seis [2%]) e diarreia (dois [1%] vs sete [2%]). 69 (18%).

“Atezolizumabe como terapia adjuvante após ressecção para pacientes com carcinoma de células renais com risco aumentado de recorrência não mostrou evidência de melhora dos resultados clínicos em relação ao placebo. Os resultados deste estudo não suportam o anti-PD-L1 adjuvante para o tratamento do carcinoma de células renais”, afirmaram os autores.

“Diante destes dados, aliado aos dados do estudo PROSPER e CHECKMATE 914 também apresentados no ESMO2022, a imunoterapia adjuvante para câncer de rim ainda é um tópico controverso. Apenas o estudo de adjuvância KEYNOTE 564 demonstrou benefício em SLD com dados de SG ainda não maduros. O futuro da terapia adjuvante em câncer renal consiste em definir melhores biomarcadores e, talvez, selecionar pacientes com ctDNA+ pós-cirurgia”, concluiu Kann.

Table: LBA66

Key endpoints

Atezo

Pbo    

HR (95% CI)

ITT

N=390

N=388

INV-DFS

  n (%)

164 (42)

168 (43)

 

  Median (95% CI), mo

57.2 (44.6, NE)

49.5 (47.4, NE)

0.93 (0.75, 1.15)

OS

  n (%)

54 (14)

53 (14)

 

  Median (95% CI), mo

NE (59.8, NE)

NE (NE, NE)

0.97 (0.67, 1.42)

IRF-DFS

  n (%)

125 (32)

138 (36)

 

  Median (95% CI), mo

NE (54.1, NE)

NE (49.4, NE)

0.87 (0.69, 1.12)

PD-L1 ≥1%

N=232

N=235

 

INV-DFS

  n (%)

93 (40)

105 (45)

 

  Median (95% CI), mo

57.2 (44.6, NE)

47.9 (38.6, NE)

0.83 (0.63, 1.10)

IRF-DFS

 n (%)

71 (31)

92 (39)

 

 Median (95% CI), mo

NE (NE, NE)

NE (41.4, NE)

0.75 (0.55, 1.03)


O estudo foi financiado pela F. Hoffmann-La Roche Ltd. E está registrado em ClinicalTrials.Gov, NCT03024996.

Referências:

1 - Bex, R. Uzzo, J.A. Karam, V.A. Master, F. Donskov, C. Suárez, L. Albiges, B.I. Rini, Y. Tomita, A. Kann, G. Procopio, F. Massari, M. Zibelman, I. Antonyan, M. Huseni, D. Basu, B. Ci, W. Leung, O. Khan, S.K. Pal. IMmotion010: Efficacy and safety from the phase III study of atezolizumab (atezo) vs placebo (pbo) as adjuvant therapy in patients with renal cell carcinoma (RCC) at increased risk of recurrence after resection. ESMO Congress 2022, LBA66

2 - Adjuvant atezolizumab versus placebo for patients with renal cell carcinoma at increased risk of recurrence following resection (IMmotion010): a multicentre, randomised, double-blind, phase 3 trial – Prof Sumanta Kumar Pal, MD; Prof Robert Uzzo, MD; Jose Antonio Karam, MD; Prof Viraj A Master, MD; Prof Frede Donskov, MD; Cristina Suarez, MD; Laurence Albiges, MD; Prof Brian Rini, MD; Prof Yoshihiko Tomita, MD; Ariel Galapo Kann, MD; Giuseppe Procopio, MD; Francesco Massari, MD; Matthew Zibelman, MD; Igor Antonyan, MC; Mahrukh Huseni, MS; Debasmita Basu, MS; Bo Ci, PhD; William Leung, PharmD; Omara Khan, MS; Sarita Dubey, MD; Prof Axel Bex, MD - Published: September 10, 2022 - DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(22)01658-0