Na análise primária do estudo Fase 3 PAOLA-1/ENGOT-ov25 (NCT02477644), a adição de olaparibe ao bevacizumabe de manutenção após quimioterapia à base de platina (PBC) de primeira linha (1L) + bevacizumabe levou a um benefício significativo de sobrevida livre de progressão (SLP) no câncer de ovário avançado (HR 0,59, 95% CI 0,49 e 0,72; P<0,001), particularmente em pacientes com deficiência de recombinação homóloga (HRD+; mutação BRCA1/2 [BRCAm] e/ou instabilidade genômica; Ray-Coquard et al NEJM 2019). Agora, a análise de sobrevida global final pré-especificada foi apresentada no ESMO 2022. A oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz (foto), Coordenadora da Oncologia Clínica do ICESP, comenta os resultados.
No estudo, pacientes com câncer de ovário avançado de alto grau, em resposta após quimioterapia à base de platina + bevacizumabe, foram randomizadas 2:1 para olaparibe (300 mg bid; até 24 meses [mo]) + bev (15 mg/kg q3w; 15 meses no total) ou placebo + bevacizumabe. A sobrevida global na população com intenção de tratar foi um endpoint secundário chave, com análise planejada para 3 anos após a análise primária como parte dos testes hierárquicos.
Resultados
537 pacientes foram randomizados para olaparibe + bevacizumabe e 269 para placebo + bevacizumabe (seguimento mediano de 61,7 e 61,9 meses, respectivamente; maturidade dos dados de SG: 55,3%). A mediana de sobrevida global na população ITT foi de 56,5 meses com olaparibe + bevacizumabe versus 51,6 meses com placebo + bevacizumabe (HR 0,92, 95% CI 0,76 e 1,12; P = 0,4118; SG em 5 anos, 47,3 vs 41,5%).
Nas pacientes com deficiência de recombinação homóloga (HRD+), a sobrevida global foi prolongada com olaparibe + bevacizumabe (HR 0,62, 95% CI 0,45 e 0,85; SG em 5 anos, 65,5 vs 48,4%), com benefício em pacientes HRD+ com ou sem tumor BRCAm (tBRCAm; Tabela). Nenhum benefício foi observado em pacientes HRD-negativo (HR 1,19, 95% CI 0,88 e 1,63).
A terapia subsequente com inibidor de PARP foi recebida por 105 (19,6%) pacientes do braço de olaparibe + bevacizumabe versus 123 (45,7%) pacientes do braço placebo + bevacizumabe. Síndrome mielodisplásica, incidência de leucemia mieloide aguda e anemia aplástica, e incidência de nova neoplasia primária, foi respectivamente: olaparibe + bevacizumabe, 9 pacientes [1,6%] e 22 pacientes [4,1%]; placebo + bevacizumabe, 6 pacientes [2,2%]) e 8 pacientes [2,9%]).
“Apesar de uma alta proporção de pacientes no braço controle recebendo um inibidor de PARP pós-progressão, olaparibe + bevacizumabe proporcionou um aumento clinicamente significativo na sobrevida global na primeira linha para pacientes HRD+ com e sem mutação BRCA, confirmando a combinação como padrão de tratamento neste cenário”, destacam os autores.
A oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz observa que o uso de inibidores da PARP em pacientes com câncer de ovário tem demonstrado significativo aumento na sobrevida livre de progressão e os dados de sobrevida global (SG) eram aguardados com muito interesse.
“No estudo PAOLA-1, foram incluídas pacientes com doença bastante avançada e elevado risco de recidiva da doença, randomizadas 2:1 para receber a manutenção com olaparibe + bevacizumabe ou olaparibe + placebo. Foram apresentados os dados de sobrevida global, com a análise pré planejada para os subgrupos com deficiência de recombinação homóloga (HDR+) ou com mutações patogênicas em BRCA1/2 (BRCAm).
Não houve diferença em SG na análise ITT. Entretanto, no grupo HRD+, a diferença é significante, com SG mediana de 75,2m vs 57,3m (HR 0,62; IC 95% 0,45 – 0,85), mesmo com 50,8% das pacientes no braço placebo tendo recebido PARPi na recidiva”, esclarece.
“O tempo para novo tratamento também foi superior no grupo com HDR+. Os eventos adversos nessa avaliação mais longa se mantiveram raros, com a ocorrência de MDS/LMA/AA de 1,7% no grupo de olaparibe e 2,2% no grupo placebo, novas neoplasias 4,1% no olaparibe e 3% no placebo e pneumonite 1,3% no grupo olaparibe e 0,7% no placebo”, afirma.
“O tratamento de manutenção com olaparibe por dois anos e bevacizumabe por 15 meses nas mulheres com câncer de ovário avançado, com resposta a platina, com HDR+, independente da mutação em BRCA, demonstrou ganho em sobrevida global. Este é um avanço importante para este grupo de pacientes, conclui Pilar.
LBA 29 | |||||
OS* | No. of events/no. of pts (%)
| 5 y OS rate, % (95% CI)
| HR (95% CI) | ||
Ola + bev | Pbo + bev | Ola + bev | Pbo + bev | ||
ITT | 288/537 (53.6) | 158/269 (58.7) | 47.3 | 41.5 | 0.92 (0.76e1.12) |
HRD+x | 93/255 (36.5) | 69/132 (52.3) | 65.5 | 48.4 | 0.62 (0.45e0.85) |
tBRCAmx | 48/157 (30.6) | 37/80 (46.3) | 73.2 | 53.8 | 0.60 (0.39e0.93) |
HRD+ excluding tBRCAmx | 44/97 (45.4) | 32/55 (58.2) | 54.7 | 44.2 | 0.71 (0.45e1.13) |
HRD-/unknownx | 195/282 (69.1) | 89/137 (65.0) | 30.6 | 34.9 | 1.14 (0.89e1.48) |
HRD-x | 140/192 (72.9) | 58/85 (68.2) | 25.7 | 32.3 | 1.19 (0.88e1.63) |
O estudo (NCT02477644) foi financiado pela ARCAGY Research, AstraZeneca, Merck Sharp & Dohme LLC, uma subsidiária da Merck & Co., Inc., Rahway, NJ, EUA, e F. Hoffmann-La Roche.
Referência: I.L. Ray-Coquard, A. Leary, S. Pignata, C. Cropet, A.J. Gonzalez Martin, G. Bogner, H. Yoshida, I.B. Vergote, N. Colombo, J. Maenpaa, F. Selle, B. Schmalfeldt, G. Scambia, E.M. Guerra Alia, C. Lefeuvre-Plesse, A. Belau, A. lortholary, M. Gropp-Meier, E. Pujade-Lauraine, P. Harter. Final overall survival (OS) results from the phase III PAOLA-1/ENGOT-ov25 trial evaluating maintenance olaparib (ola) plus bevacizumab (bev) in patients (pts) with newly diagnosed advanced ovarian cancer (AOC) ESMO Congress 2022, LBA29